Ao longo de uma vida de trabalho, entre os 18 e 65 anos, trabalhadores negros no Brasil recebem, em média, R$ 899 mil a menos que trabalhadores não negros. Para aqueles com ensino superior, essa diferença é ainda maior, ultrapassando R$ 1,1 milhão.
Os dados são do boletim divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao segundo trimestre de 2024.
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Apesar de representarem 55% da força de trabalho e ampliado significativamente seu acesso ao ensino superior desde a implementação da Lei de Cotas em 2012, negros continuam ganhando, em média, 40% menos que não negros.
A pesquisa aponta que a disparidade salarial persiste mesmo entre trabalhadores com formação universitária. Enquanto um negro formado ganha 32% menos que um colega não negro com o mesmo nível de escolaridade, o prejuízo acumulado ao longo da vida é ainda mais significativo.
Mulheres negras são as mais prejudicadas
As mulheres negras enfrentam o maior impacto das desigualdades. Em 2024, seu rendimento médio foi de R$ 2.392, cerca de 40% inferior à média nacional (R$ 4.008). Além disso, 46% delas estão na informalidade, desempenhando atividades como o trabalho doméstico. Entre as empregadas domésticas sem carteira assinada, o rendimento médio foi de apenas R$ 950 por mês, abaixo do salário mínimo.
Nas ocupações de menor prestígio e remuneração, a presença de negros é dominante: 70% dos profissionais nas dez piores ocupações são negros, enquanto nas 10 melhores, representam apenas 27%.
O relatório do Dieese conclui que, embora tenham ocorrido avanços como o aumento da escolaridade, a desigualdade salarial entre negros e não negros permaneceu inalterada nos últimos 12 anos, com negros ganhando entre 68% e 70% do rendimento médio dos não negros.
Especialistas defendem políticas públicas direcionadas para combater essas disparidades históricas. A Lei de Igualdade Salarial entre Gêneros, sancionada em 2023, é apontada como um passo na direção certa, mas ainda insuficiente para corrigir as injustiças enfrentadas pela população negra.