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Rashid diz que sua arte tem compromisso com a verdade — e quem a escuta sabe disso

O artista lançou este ano o álbum "Portal", um retrato do momento em que vive a experiência de se tornar pai ao passo que também se reconecta com o início da carreira. Em entrevista, Rashid fala sobre sua sensibilidade, suas referências e inspirações
Imagem em preto e branco mostra o rapper Rashid.

Foto: Divulgação/Rashid

11 de dezembro de 2024

“O mundo não quis nem me dar emprego, o hip-hop me deu uma profissão”. A frase inspirada na canção “Gratidão” (2014) foi uma das declarações de Michel Dias Costa, o rapper Rashid, ao abrir o coração para os seus fieis fãs no show de lançamento de “Portal”, seu quinto álbum em estúdio, ocorrido na Casa Natura Musical, em São Paulo, na noite de 8 de dezembro.

O artista lançou o disco oficialmente nas plataformas de música em 8 de agosto. Com canetadas como “Castelos de Papel”, “Frustração” e “Um Tom de Azul” (parceria com Péricles), o álbum se destaca, sobretudo, pelo seu tom íntimo e sem medo da vulnerabilidade, o que fica evidente ainda mais na faixa “Cairo”, que carrega o nome do primeiro filho de Rashid com Daniela Rodrigues, esposa e empresária do músico.

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Na canção, ouvimos um homem negro que fez carreira falando sobre afeto, mas também sobre a realidade de ser quem se é em um país racista como o Brasil, fazer uma  carta aberta ao seu primogênito de forma tão encantadora que emociona até mesmo quem não é pai ou mãe, como eu.

Para Rashid, isso acontece de forma completamente natural, afinal faz parte de quem ele é desde “A Hora de Acordar”, seu primeiro EP, lançado em 2010.

“Eu sei que tem a coisa da casca que colocam sobre a gente, às vezes a capa de herói ou a máscara de vilão, mas para mim é um pouco natural porque, na minha percepção, o rap que eu cresci ouvindo já tratava dessas coisas.  Enquanto aluno dos professores que tive no rap, eu enxergava essa sensibilidade nos caras, mesmo que sem querer”, conta, em entrevista à Alma Preta.

Essa sensibilidade de Rashid também está em suas referências na música, como o maior nome da história do samba. O músico reivindica a naturalidade dessa sua característica como algo pertencente não só a ele, como a toda a comunidade negra.

“O Cartola falava de coisas muito naturais e de uma perspectiva muito íntima. Esse sempre foi um lugar que nos pertence e que a gente pode explorar e ser livre. Podemos ser livres para chorar, para sorrir, e meu compromisso sempre foi com a verdade. A verdade é muito ampla, envolve muitas coisas, é a verdade que vivemos na rua, os problemas sociais, a situação econômica do trabalhador brasileiro. Mas a verdade também é o amor, a amizade, a parentalidade, a espiritualidade e por aí vai”.

Reconexão com o início da carreira

O álbum “Portal” também nasceu do desejo e da necessidade de Rashid em se reconectar com o início de sua jornada no rap até despontar como um dos maiores MCs do Brasil. 

Nessa trajetória, o artista mineiro da cidade de Lavras se destacou na Batalha do Santa Cruz e na Rinha dos MCs, eventos da cena do hip-hop em São Paulo responsáveis por revelar também nomes como Projota e Emicida, parceiros de arte e de vida de Rashid. Na época, o trio de amigos ficou conhecido como “Os Três Temores”.

Para Rashid, revisitar o chão onde já pisou é um movimento cíclico para plantar novas sementes, como ele mesmo diz, “em uma nova perspectiva, com mais bagagem e mais maturidade”. 

“É o Rashid pai, que tem sua empresa funcionando há mais de dez anos. O Rashid que agora já rodou por vários países, e coisas novas vão sendo agregadas a isso, aos velhos pontos de vista. Vale a pena sempre voltar e olhar para o que a gente já fez”, complementa. 

Nessa reconexão com o passado, o que também inspirou Rashid a criar “Portal” foi o resultado de “Confundindo Sábios”, álbum que completou dez anos em 2023 e foi celebrado pelo artista com uma apresentação especial também na Casa Natura Musical.

“Eu fico orgulhoso de ver como a minha arte vem amadurecendo junto comigo […]. Quando olho para trás me sinto muito feliz, muito grato, e ‘Portal’ representa isso. Ele junta esse sentimento de gratidão e de orgulho com a busca pelo Rashid de amanhã. Um novo álbum para um artista é como colocar um filho no mundo, um novo mundo no mundo”.

  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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