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Quênia completa 62 anos de independência com desafios para justiça e igualdade 

Nesta quinta-feira (12), o Quênia comemora seis décadas de autonomia, mas a luta por justiça e igualdade continua em um país marcado por seu passado colonial
Registro dos guerrilheiros mau mau, grupo armado que desempenhou um papel importante na luta da independência do Quênia contra a colonização britânica, em 1963.

Foto: Reprodução/Liga Internacional dos Trabalhadores

12 de dezembro de 2024

Há exatos 62 anos, o Quênia se libertava do domínio colonial britânico, tornando-se um Estado independente em 12 de dezembro de 1963. A data marca um dos momentos mais significativos da história do país, que se ergueu após décadas de exploração, resistência e luta pela autodeterminação.

A independência do Quênia foi precedida por um longo período de colonização britânica, que começou no final do século XIX. Durante o domínio colonial, os quenianos enfrentaram a expropriação de terras, exploração econômica e opressão política. As tensões culminaram na década de 1950, com a emergência da revolta Mau Mau, uma insurreição liderada principalmente pelos kikuyus, o maior grupo étnico do país, que exigia o retorno de suas terras e o fim do governo colonial.

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O movimento foi marcado por ataques contra colonos britânicos e os interesses do império, mas também foi combatido pelas forças britânicas. A resposta do governo colonial foi cruel: campos de concentração, torturas sistemáticas e bombardeios aéreos nas florestas, onde os insurgentes se refugiaram. Entre 1952 e 1956, a repressão britânica matou dezenas de milhares de quenianos, muitos em circunstâncias que se assemelham a crimes de guerra.

No entanto, mesmo com o poderio militar britânico, os Mau Mau não foram derrotados completamente, e o movimento por independência se espalhou para outras esferas da sociedade. O contexto se tornou insustentável para os britânicos, que começaram a negociar com líderes locais, entre eles Jomo Kenyatta, um dos principais dirigentes do movimento. Embora Kenyatta fosse um líder encarcerado, sua figura se tornou central para as negociações pela independência.

Em 1960, os britânicos suspenderam o Estado de Emergência e, em 1963, o Quênia se tornou um país independente, com Jomo Kenyatta assumindo o cargo de primeiro-ministro. No entanto, seu governo logo se afastou das ideias de reconciliação com os Mau Mau. 

Conforme as informações da Liga Internacional do trabalho, Kenyatta, uma figura chave na luta pela independência, fez concessões políticas com antigos aliados coloniais, incluindo a manutenção de muitos funcionários brancos no governo e um alinhamento com o Commonwealth, a comunidade das nações sob a liderança da Rainha da Inglaterra. 

Kenyatta renunciou a sua própria história de envolvimento com os Mau Mau e, ao invés de buscar justiça para os antigos combatentes, procurou garantir a estabilidade política do novo Estado. O preço dessa estabilidade foi uma versão de independência que negligenciava a reparação pelos crimes cometidos durante o domínio colonial.

Kenyatta tomou rumos controversos após desempenhar papel crucial na independência do país africano (Reprodução/Dutch National Archives)

A cerimônia de independência foi realizada no Uhuru Gardens, em Nairóbi, contou com a presença de milhares de quenianos e dignitários internacionais. A bandeira do Reino Unido foi baixada e o país adotou sua própria bandeira, que simboliza a luta pela liberdade: o preto representando o povo queniano, o vermelho, o sangue derramado na luta, o verde, a rica vegetação, e o branco, a paz.

A liderança de Kenyatta foi seguida por Daniel arap Moi, que governou o país por 24 anos, um período marcado tanto por avanços como por críticas à concentração de poder e à corrupção.

Os desafios do Quênia no presente

Seis décadas após a independência, o Quênia registra avanços significativos em áreas como turismo, educação, infraestrutura e tecnologia. O país é reconhecido como um dos principais polos de inovação na África, especialmente com o crescimento de sua indústria tecnológica conhecida como “Silicon Savannah”, analogia para o termo Vale do Silício e o ecossistema de savana do país. Além disso, a democracia queniana tem se fortalecido, com eleições multipartidárias e maior participação cidadã.

No entanto, os desafios persistem. Questões como corrupção endêmica, desigualdade econômica e tensões étnicas ainda representam obstáculos para o desenvolvimento pleno do país. Mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza e o desemprego entre jovens permanece alto, alimentando frustrações sociais.

A mudança climática também apresenta uma ameaça crescente. O Quênia, cuja economia depende significativamente da agricultura, enfrenta secas severas e imprevisíveis, afetando milhões de pessoas. Além disso, a luta contra o terrorismo, especialmente contra grupos como o somaliano Al-Shabaab, continua a ser uma preocupação de segurança nacional.

Reparação pelos abusos britânicos

Em 2011, um novo capítulo de luta por justiça foi aberto com o processo de um grupo de quenianos que buscava reparação pelos abusos cometidos pelos britânicos. O processo resultou no reconhecimento das atrocidades cometidas durante o período da repressão aos Mau Mau e na compensação financeira para algumas das vítimas. 

Apesar das vitórias parciais, ainda há milhares de quenianos que buscam reparações, enquanto o governo britânico, apesar de ter admitido a gravidade das ações coloniais, continua a ser pressionado por um movimento crescente de justiça.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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