A filósofa e militante brasileira Sueli Carneiro se tornou a primeira brasileira reconhecida como cidadã do Benin em uma cerimônia ocorrida na última semana, na cidade de Cotonou.
O gesto político transmite uma mensagem inequívoca sobre o compromisso do Benin em consolidar uma política de reparação para a comunidade afrodiaspórica, abrindo precedentes para que esse ato possa ser replicado por outros países do continente africano.
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A outorga da cidadania beninense a afrodescendentes é fruto de uma nova legislação do governo local, visando à reconciliação e o reconhecimento das profundas feridas causadas pela escravização do povo negro.
A medida tem impacto significativo no Brasil, país que abriga a maior população negra fora da África, e sinaliza a abertura de novas portas de retorno e reconexão com as origens.
A concessão da cidadania beninense a Sueli Carneiro impulsiona um diálogo mais profundo sobre o futuro das relações políticas, sociais e culturais entre as comunidades afrodescendentes e africana de ambos os lados do Atlântico.
Reparação é a palavra de ordem já sinalizada pelo presidente do Benin, Patrice Talon, em sua visita ao Brasil em maio de 2024.
Participaram da cerimônia o ministro das Relações Exteriores, Olushegun Adjadi Bakari, o ministro da Justiça e Legislação, Yvon Detchenou, e a diretora geral de Assuntos Consulares e Beninenses no Exterior, Myrina Amoussouga Adam-Bongle.
No encontro também esteve a filha de Sueli, Luanda Carneiro Jacoel, além da diretora de cinema Urânia Munzanzu e a produtora executiva Flávia Santana, que produzem no continente africano o documentário “Mulheres Negras em Rotas de Liberdade”, no qual a intelectual brasileira é uma das protagonistas.
O documentário está em fase de produção no continente africano, percorrendo, além de Benin, Senegal e Nigéria para revisitar as rotas do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas refletindo sobre liberdade a partir da perspectiva de mulheres negras brasileiras expoentes do ativismo, do pensamento intelectual e da arte.
“O documentário contraria o vaticínio da porta do não retorno. As mulheres negras que estão fazendo essa travessia voltam para dizer que não esqueceram as suas raízes, o seu pertencimento e a sua ancestralidade. Voltam também para reivindicar: não aceitamos que vocês nos esqueçam!”, afirma Sueli Carneiro.
Ao incluir em sua narrativa a cidadania outorgada a Sueli Carneiro, a obra fortalece o discurso de reconexão entre Brasil e África e enaltece a importância do reconhecimento oficial dos laços ancestrais e culturais que compõem a identidade afrodiaspórica.