Após 15 meses de ataques em território palestino e diversas acusações de genocídio na região, o governo de Israel aceitou, nesta quarta-feira (15), um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns na Faixa de Gaza.
Dados compilados pela Agência Central de Estatísticas Palestinas (PCBS) indicam que o conflito, iniciado em 7 de outubro de 2023, após ataque do Hamas contra Israel, reduziu a população de Gaza em 6%. O relatório do órgão estima que, até dezembro do ano passado, as tropas israelenses tenham matado mais de 54 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
O acordo foi negociado com a participação do Catar e prevê a troca de prisioneiros e reféns, além da desocupação gradual das tropas israelenses no território.
Segundo a agência AFP, Mohammed bin Abdulrahman, primeiro-ministro do Catar anunciou que a suspensão dos ataques em Gaza está prevista para começar no próximo domingo (19).
Em nota, o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, que também integrou as articulações, destacou a urgência em facilitar a entrega rápida de ajuda humanitária à população do território, sem qualquer impedimento.
Após o anúncio do cessar-fogo, o premiê palestino, Mohammed Mustafa, declarou que a comunidade internacional precisa manter a pressão sobre Israel. “O cessar-fogo veio principalmente por causa da pressão internacional. Então a pressão funciona”, disse antes de uma conferência em Oslo, na Noruega.
ONU, África do Sul e organizações internacionais acusam Israel de genocídio
Os 15 meses de ataques de Israel na Faixa de Gaza geraram clamor internacional pelo cessar-fogo com diversos protestos populares ao redor do mundo. Além das manifestações de rua e nas redes sociais, países e organizações internacionais acusaram formalmente Israel de genocídio na região. No final de 2024, um mandado de prisão contra o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, chegou a ser emitido pelo Tribunal Penal Internacional, apontando crimes de guerra.
As semelhanças ao processo de genocídio nas ações militares de Israel foram apontadas pelo comitê especial da Organização das Nações Unidas (ONU), que em novembro de 2024 concluiu que autoridades israelenses apoiaram publicamente políticas que privaram as “necessidades vitais mais básicas” da população palestina.
Em março do mesmo ano, a relatora especial da ONU, Francesca Albanese, também acusou Israel de genocídio em relatório para a organização. “Ao analisar os padrões de violência e as políticas de Israel em seu ataque contra Gaza, este relatório conclui que há indícios razoáveis para acreditar que o limite que indica o cometimento de genocídio por parte de Israel foi atingido”, diz o documento.
Outra denúncia contra as investidas israelenses na Faixa de Gaza foi realizada na mais alta instância judicial das ONU, em outubro de 2024. A África do Sul encaminhou um extenso relatório à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, cobrando a condenação de Israel pelos atos de extermínio em Gaza.
“As evidências mostrarão que subjacente aos atos genocidas de Israel está a intenção especial de cometer genocídio, o fracasso de Israel em prevenir o incitamento ao genocídio, em prevenir o genocídio em si e em punir aqueles que incitam e cometem atos de genocídio”, declarou a presidência sul-africana à época.
Em dezembro de 2024, a Anistia Internacional apresentou um documento que detalha os diversos casos no qual o governo de Israel violou três dos cinco atos proibidos pela Convenção das Nações Unidas sobre genocídio.
O relatório de 296 páginas expõe o assassinato em massa de civis e acusam as forças de segurança israelense de causar danos físicos e mentais deliberados aos palestinos de Gaza, para causar sua “destruição física total ou parcial”.
Em declaração publicada nesta quarta-feira (15), a secretária-geral da Anistia Internacional comentou o anúncio de cessar-fogo, enfatizando que o estrago deixado por Israel na Palestina é irreparável.
“Para os palestinos que perderam tanto, não há muito o que comemorar quando não há nenhuma garantia de que eles terão justiça e reparação pelos crimes horríveis que sofreram”, disse a representante, acrescentando que os palestinos são vítimas de um genocídio.
Trump promete aproximação com Israel e uso da força
Em nota na rede social norte-americana Truth Social, o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que manterá proximidade com as autoridades israelenses após o cessar-fogo.
Trump, que será empossado novamente como presidente na próxima segunda-feira (20), informou que, em seu próximo mandato, a equipe de Segurança seguirá agindo para “promover a paz por meio da força” na região.
“Continuaremos trabalhando de forma próxima com Israel e com nossos aliados para garantir que Gaza NUNCA se torne um santuário terrorista”, declarou Trump em publicação na Truth Social.