No dia 17 de janeiro de 1961, o líder congolês Patrice Emery Lumumba foi morto, vítima de uma emboscada. Ao derreter seu cadáver em ácido, seus algozes tentaram alcançar um feito que jamais seria possível: apagar sua importância na luta anticolonialista e na libertação das nações de África.
Por quase seis décadas, o território congolês foi dominado pela Bélgica, país responsável por um dos maiores massacres da história. Sob o comando do rei belga Leopoldo II, entre o final do século 19 e início do século 20, estima-se que mais de 15 milhões de pessoas foram mortas, além dos milhares de escravizados e mutilados.
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Nascido na cidade de Onalua, em 1920, o líder político foi o fundador do Movimento Nacional Congolês (MNC), o primeiro partido político que defendia a independência total do República Democrática do Congo (RDC), alcançada na década de 60.
Lumumba também defendeu a independência de todos os países africanos em seus diversos artigos de jornais e produções literárias, e denunciou a exploração sistemática dos colonizadores europeus em eventos políticos em Bruxelas, na Bélgica.
“Juntos vamos começar uma nova luta, uma luta sublime. Vamos mostrar ao mundo o que o homem negro é capaz de fazer quando trabalha em liberdade. E para tanto, estejam certos de que contaremos não apenas com nossa imensa força e imensas riquezas, mas com a assistência de inúmeros países cuja colaboração aceitaremos, se ofertada livremente e sem a tentativa de imposição de uma cultura alienígena, não importa qual seja sua natureza”, declamou o líder em discurso no dia da independência, no dia 30 de junho de 1960.
O herói nacional também foi primeiro-ministro da nação liberta, logo após o processo de independência. Entre suas célebres frases, o intelectual reforça que não há justiça sem dignidade e que “sem a independência, não há homens livres”.
Após três meses no poder, seu governo foi derrubado e o líder foi morto por um pelotão de fuzilamento, numa região do sudoeste do Congo.
A única parte restante de Lumumba, uma coroa dentária de ouro utilizada pelo político, chegou a ser guardada por décadas por um dos envolvidos no assassinato. O crime teve o envolvimento da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) e do governo belga, que em 2022, devolveu os restos mortais do intelectual para seus familiares.
Os algozes de Patrice Lumumba tentaram não só o matar fisicamente, mas também aniquilar todas suas formas de existência, e ideais que representava. No entanto, sua liderança, tão sublime quanto sua luta, foram mais do que suficiente para eternizá-lo na história e na subjetividade das comunidades negras de todo o mundo.
O homem negro livre por quem o intelectual lutou, hoje, segue enfrentando as mais diversas mazelas, originadas no mesmo sistema que tentou suprimir os ideais de Lumumba.
Mas é sabido que cada passo dado pela comunidade negra na luta antirracista é iluminado pela história de luta e as conquistas do herói da República Democrática do Congo.