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Bélgica devolve à família restos mortais de Patrice Lumumba, fundador do Congo

Considerado um herói, Lumumba foi assassinado por separatistas e mercenários belgas, com apoio dos EUA, em 1961; coroa dentária de ouro da liderança é único resto mortal conhecido e foi encontrado em posse de um dos policiais envolvidos na execução do congolês

Foto de Patrice Lumumba, ex-primeiro ministro da República Democrática do Congo. Ele é um homem negro e veste terno e gravata.

Foto: Imagem: Wikimedia Commons

21 de junho de 2022

O Governo da Bélgica devolveu os únicos restos mortais conhecidos do líder Patrice Lumumba, fundador da República Democrática do Congo (RDC), à sua família na última segunda-feira (20). O marco ocorreu após seis décadas do assassinato do líder belga por separatistas e mercenários belgas em 1961.

A coroa dentária de ouro, que era usada por Lumumba, foi entregue a seus familiares em cerimônia privada em Bruxelas pela Promotoria Pública belga. O promotor belga Frederic Van Leeuw deu aos parentes uma pequena caixa azul brilhante contendo o dente em uma cerimônia televisionada, segundo informações do site Africanews.

Um caixão com a coroa dentária será enviado para a RDC e colocado em um memorial. O país terá três dias de luto oficial em homenagem a Lumumba entre os dias 27 e 30 de junho, dia do 62° aniversário da independência congolesa.

Quem foi o líder belga?

Patrice Emery Lumumba liderou a independência da República Democrática do Congo e foi o primeiro premiê congolês. Considerado um herói anticolonial, o líder defendia a união dos povos africanos contra o colonialismo, independente das diferenças étnicas e tribais. Lumumba havia liderado o Movimento Nacional Congolês e conduzido à independência o Congo Belga, hoje RDC. A independência do país foi efetivada em junho de 1960.

“A República do Congo foi proclamada e agora se encontra nas mãos de seus próprios filhos. Juntos vamos começar uma nova luta, uma luta sublime. Vamos mostrar ao mundo o que o homem negro é capaz de fazer quando trabalha em liberdade. E para tanto, estejam certos de que contaremos não apenas com nossa imensa força e imensas riquezas, mas com a assistência de inúmeros países cuja colaboração aceitaremos, se ofertada livremente e sem a tentativa de imposição de uma cultura alienígena, não importa qual seja sua natureza”, disse o líder em seu discurso no dia da independência, em 30 de junho de 1960.

Partidário de um país independente e unitário, sua aproximação com a União Soviética culminou na decisão de assassiná-lo, atribuída aos agentes da CIA, dos EUA, e do governo belga (antiga potência colonial do país).

Em 17 de janeiro de 1961, Lumumba é assassinado aos 35 anos por um pelotão de fuzilamento, depois de seu governo ser derrubado após três meses no poder. Sua execução brutal teve o apoio de mercenários belgas e, após sua morte, seu corpo foi dissolvido em ácido, nunca sendo encontrado.

De acordo com informações do DW, a coroa dental dourada foi tudo o que restou, sendo guardada como um troféu por um policial belga Gerard Soete, um dos envolvidos na execução da liderança. O dente foi apreendido em 2016, após a família de Lumumba apresentar queixa. Há anos, os familiares promoviam campanha pela devolução dos restos mortais.

“Não é normal que os belgas tenham mantido consigo durante seis décadas os restos mortais de um dos fundadores da nação congolesa. Gostaria, na presença de sua família, de apresentar um pedido de desculpas em nome do governo belga. Um homem foi assassinado por suas convicções políticas, suas palavras, seus ideais”, afirmou o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, em discurso nesta segunda-feira, também ao declarar que a Bélgica tem “responsabilidade moral” pela morte do ex-primeiro-ministro.

O filho de Lumumba, François, disse à emissora RTBF da Bélgica que seus parentes esperavam “mais de 60 anos” por este evento. “Acho que proporcionará consolo para a família e o povo congolês”, disse ele.

Os filhos de Lumumba também foram recebidos na segunda-feira pelo rei Philippe da Bélgica, que este mês viajou à República Democrática do Congo para expressar seus “mais profundos arrependimentos” pelo passado colonial, segundo informações do Africanews.

Leia mais: “É africano?”: brasileiros negros compartilham suas experiências raciais pelo mundo

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