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Com mais poder, novo governo Trump promete ataque sem precedentes aos imigrantes

Com o controle total sobre o Congresso e o Judiciário, Trump prepara uma agenda radical de deportações e ataques à imigração; especialistas apontam que decisão pode acarretar impacto social e desafios com diplomacias internacionais
O presidente dos EUA, Donald Trump, no Capitólio dos EUA, em Washington, DC, em 20 de janeiro de 2025. Durante a cerimônia de posse, Trump reforçou discurso contra imigrantes do país norte-americano.

O presidente dos EUA, Donald Trump, no Capitólio dos EUA, em Washington, DC, em 20 de janeiro de 2025. Durante a cerimônia de posse, Trump reforçou discurso contra imigrantes do país norte-americano.

— Greg Nash/Pool/AFP

20 de janeiro de 2025

Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20), com a promessa de transformar o país e devolver-lhe uma suposta “Era de Ouro”. A principal prioridade de seu governo será a imigração, com medidas drásticas para erradicar a entrada e a permanência de imigrantes em situação irregular. 

Trump promete ações contundentes, como a assinatura de decretos para declarar uma emergência nacional na fronteira com o México e uma ofensiva para deportar milhões de estrangeiros classificados de “criminosos” pelo líder de extrema-direita.

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De acordo com a plataforma estadunidense Higher Ed Immigration, dos 45 milhões de imigrantes nos Estados Unidos, 4,7 milhões (10,4%) são negros. E dos 47 milhões de negros que vivem nos Estados Unidos, 4,7 milhões (9,9%) são imigrantes. 

Um pouco mais de metade dos imigrantes negros vêm das Caraíbas/América Latina (54%) e um pouco menos de metade de África (42%), sendo quase todos os restantes 4% representados por negros europeus e habitantes das ilhas da Ásia/Pacífico.

Trump também anunciou que revogará diversas políticas implementadas pelo governo anterior, com destaque para a eliminação de programas de diversidade sexual e a retirada dos EUA do Acordo de Paris. Além disso, ele pretende implementar uma “emergência energética nacional”, visando expandir a extração de hidrocarbonetos, colocando os Estados Unidos em uma rota mais agressiva de exploração de recursos naturais.

Retórica e ação contra imigrantes

Denilde Holzhacker, pesquisadora e especialista em política internacional e Diretora Acadêmica de Pesquisa e Pós-Stricto Sensu da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), explica à Alma Preta que o governo de Trump pode ser mais retórico do que prático em algumas questões. No entanto, ele buscará ações simbólicas que evidenciem seu compromisso com a agenda de imigração, como deportações em massa.

“A problemática em si permanece a mesma: as idas e vindas na política migratória, com debates sobre como legalizar ou não legalizar as pessoas que vivem e entram nos Estados Unidos, continuam sendo uma questão central”, afirma Denilde.

A pesquisadora ainda aponta que a postura agressiva de Trump pode gerar tensões não apenas no território norte-americano, mas também entre os Estados Unidos e seus aliados históricos, como o Brasil. Um número considerável de imigrantes brasileiros pode ser afetado pelas medidas de deportação, mas a resposta do governo Lula ainda é incerta.

Apoio no Congresso e resistência jurídica

Trump conta com forte apoio no Congresso, no qual a maioria republicana tanto na Câmara quanto no Senado lhe dá liberdade para implementar suas políticas. Contudo, a resistência pode vir de grupos de advocacia e defesa dos direitos dos imigrantes. Esses grupos estão preparados para travar batalhas jurídicas, principalmente sobre regras definidas durante o governo Biden, como o direito de asilo, visto humanitário e as políticas relativas aos “dreamers” (sonhadores) – imigrantes nascidos nos Estados Unidos.

“Embora existam limitações legais e desafios jurídicos, Trump possui um amplo arsenal de ações, especialmente se conseguir decretar um estado de emergência na área migratória”, explica Denilde. O impacto da imigração também será econômico, já que imigrantes brasileiros e latinos desempenham papéis cruciais em setores como turismo, agricultura e serviços de limpeza. A expulsão em massa desses trabalhadores poderia causar danos significativos a setores essenciais da economia norte-americana.

Desafios para o Brasil e a diplomacia internacional

Cristiano Rodrigues, cientista político, lembra em entrevista à Alma Preta que a situação atual é mais desafiadora para os países afetados do que o cenário de 2016. “Agora, Trump possui mais poder, com controle sobre as duas casas legislativas e o Judiciário, além do apoio de grandes grupos financeiros, como as Big Techs. Isso amplia o impacto de seu discurso sobre questões sociais e gera consequências diretas para imigrantes e minorias”, analisa.

Com a intensificação da retórica anti-imigração, o Brasil e outros países enfrentarão dificuldades ao tentar intervir nas deportações, já que as decisões são soberanas dos EUA. 

Para Rodrigues, o que os países podem fazer é fornecer assistência aos deportados, como por meio de diplomacia, contatos consulares e mecanismos jurídicos de proteção. Entretanto, como destaca a pesquisadora Denilde Holzhacker, os governos têm pouca capacidade de se opor às decisões soberanas de um país como os EUA.

Deportações de imigrantes e o impacto social

Trump prometeu iniciar deportações em massa a partir de amanhã (21), com operações policiais focadas em imigrantes em situação irregular. As chamadas “cidades santuário”, como São Francisco e Chicago, que oferecem proteção aos imigrantes, também serão alvo de ações, com possibilidade de corte de fundos federais destinados a programas de acolhimento.

Cristiano Rodrigues também aponta que, no cenário atual, Trump pode revogar o jus soli, o direito à cidadania automática para filhos de imigrantes nascidos nos Estados Unidos. Esse movimento afetaria milhões de imigrantes de longa data, interrompendo seus processos de naturalização e criando um clima de apreensão. 

O medo de represálias será especialmente presente entre as populações vulneráveis, como refugiados, imigrantes africanos e haitianos, que já enfrentam condições difíceis para se estabelecer nos Estados Unidos.

O papel da sociedade civil e as alternativas

Em resposta, a sociedade civil dos Estados Unidos já começou a se mobilizar, como demonstrado em protestos em Washington D.C. e em outras cidades. Grupos de direitos humanos e movimentos sociais estão se organizando para defender os direitos dos imigrantes e pressionar o governo a adotar políticas mais inclusivas.

Rodrigues observa que, enquanto a resistência será forte, a ação será mais focada na defesa das populações mais vulneráveis, como refugiados e imigrantes de países de origem mais distante. “Os latino-americanos são um grupo relativamente menos vulnerável, mas o foco da resistência provavelmente será em proteger os refugiados de situações extremas, como os haitianos e africanos”, afirma o cientista político.

Esse movimento, entretanto, poderá ser barrado pela crescente força do conservadorismo nos Estados Unidos, no qual a extrema-direita e os grupos financeiros aliados desempenham um papel crescente. 


“Em vários lugares da Europa Ocidental, em geral, você tem esse movimento de fechamento das fronteiras e de ódio aos imigrantes. Isso não é um fenômeno tipicamente norte-americano. É um fenômeno que está acontecendo em outros lugares, até no Canadá, que é um país muito mais progressista. Então, o que vemos no cenário atual é um cenário de mudança radical do que estávamos acostumados”, conclui Rodrigues.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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