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Chacina do Cabula, em Salvador, completa 10 anos e policiais envolvidos seguem impunes

Dez anos após a Chacina do Cabula, que resultou na morte de 12 jovens negros em Salvador, o caso segue sem solução definitiva; O processo judicial permanece em segredo de justiça e os policiais envolvidos em atividade
Imagem de um memorial para as vítimas da Chacina do Cabula, em Salvador. Na ocasião, 12 jovens negros foram assassinados pela polícia militar do estado. Após 10 anos, o caso segue sem resolução.

Imagem de um memorial para as vítimas da Chacina do Cabula, em Salvador. Na ocasião, 12 jovens negros foram assassinados pela polícia militar do estado. Após 10 anos, o caso segue sem resolução.

— Rafael Bonifácio/Ponte Jornalismo

6 de fevereiro de 2025

Nesta quinta-feira (6), completam-se dez anos da Chacina do Cabula, uma operação policial que resultou na morte de 12 jovens negros no bairro do Cabula, em Salvador (BA). Os jovens com idades entre 15 e 28 anos foram baleados e outras seis pessoas ficaram gravemente feridas. Até hoje o caso segue sem resolução.

Oito policiais militares foram inicialmente acusados pelos assassinatos, mas a absolvição deles em 2018 foi anulada, após um pedido de reavaliação do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA). Atualmente, o caso permanece em segredo de justiça e, em 2022, a maioria dos réus ainda estavam em serviço ativo na Polícia Militar. A chacina segue um padrão de impunidade, com o processo judicial se arrastando por anos sem resultados concretos.

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Versões conflitantes e a resistência da Justiça

Segundo a versão da Polícia Militar, a ação foi uma resposta a um suposto confronto com o grupo de jovens, que, segundo os policiais, planejavam um roubo a banco. A PM alegou que as vítimas estavam armadas e portavam coletes de camuflagem, mas essa versão foi refutada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que apontou fortes indícios de violência policial

De acordo com o MP-BA, os policiais agiram de forma excessiva, “encurralando e executando sumariamente” os jovens, sem qualquer justificativa plausível.

Em maio de 2015, a denúncia contra os nove policiais foi aceita pela Justiça, mas, em julho de 2018, a juíza Marinalva Almeida Moutinho absolveu os acusados. A sentença foi anulada no mesmo ano e os PMs continuaram como réus.

A violência policial e o clima de impunidade

Dudu Ribeiro, historiador e cofundador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, em entrevista à Alma Preta, pontuou que a Chacina do Cabula é um dos casos mais emblemáticos de violência policial na Bahia, pois revela um conjunto de fatores que envolvem impunidade e uma política de segurança pública falha. 

“A falta de investigação rigorosa e a permanência dos policiais nas ruas demonstram um padrão de impunidade que incentiva a repetição dessas violências”, alerta Ribeiro. Ele também critica a priorização de investimentos no fortalecimento de forças especiais, como o Bope, em detrimento de mecanismos de investigação, o que compromete a resolução de crimes contra a vida.

Dudu menciona a postura recorrente dos governantes da Bahia, que, em vez de revisar protocolos e fortalecer a responsabilização policial, alinham a ideia de eficácia à letalidade. Para ele, a criação de unidades policiais como o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), voltadas para operações militares, sem a devida estrutura de investigação, coloca a população em risco e perpetua o ciclo de violência, especialmente nas periferias e nas comunidades negras.

A Bahia e a escalada da violência policial

A Bahia lidera as estatísticas de chacinas policiais no Brasil, com ações violentas que resultam em múltiplas mortes em um único episódio. Essas chacinas, como a do Cabula, não são tratadas com a devida gravidade e responsabilidade, o que perpetua um ambiente de letalidade. 

“Tanto a absolvição sumária dos policiais em um primeiro momento quanto a permanência deles na ativa passam uma mensagem clara para a tropa: há respaldo institucional para execuções extrajudiciais”, destaca Ribeiro. “Isso cria um ambiente de impunidade que incentiva a perpetuação de procedimentos violentos”, acrescenta.

Dudu Ribeiro conclui que a solução para esse cenário é o investimento em investigação, a adoção de protocolos de segurança que priorizem a vida e a responsabilização dos responsáveis pelas mortes.

“O Brasil não foi condenado por esse caso em uma corte internacional, mas há, atualmente, uma intensa campanha que trouxe visibilidade, inclusive, a uma fala do governador da época. Talvez essa seja uma das mensagens mais tristes desse processo, pois reflete uma postura recorrente na Bahia do ponto de vista da hierarquia: a manutenção de um discurso que tenta aliar eficácia e eficiência à letalidade”, reflete o historiador.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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