Neste sábado (8), comemora-se o Dia Internacional da Mulher, data que simboliza a luta histórica das mulheres por direitos, equidade e respeito. O dia também intensifica os debates sobre os múltiplos contextos em que vivem as mulheres brasileiras, sobretudo, as negras.
Com o debate do pensamento feminista em evidência, é importante ressaltar o trabalho de intelectuais que ajudaram a pavimentar e aprofundar a discussão do mulherismo negro no Brasil, a partir de uma perspectiva interseccional e racial aplicada nas diversas expressões do machismo na sociedade.
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Para compreender os contextos de hierarquia social presente nas relações de gênero e raça, a Alma Preta selecionou cinco personalidades negras que contribuíram para “enegrescer” o movimento feminista no país.
1. Lélia Gonzalez
Consagrada como pioneira do feminismo negro no Brasil, Lélia Gonzalez revolucionou o debate de raça e gênero ao evidenciar o racismo no movimento feminista hegemônico. Filósofa, antropóloga e professora, ela cunhou conceitos que valorizam a identidade e a resistência das mulheres negras na diáspora africana.
Entre suas obras tidas como clássicas estão Lugar de Negro (1982), Festas Populares no Brasil (1987) e a coletânea póstuma de seus textos mais importantes “Por um Feminismo Afro-Latino-Americano (2018).

2. Carla Akotirene
Pesquisadora e referência contemporânea na abordagem do feminismo interseccional no Brasil, Carla Akotirene traz uma análise aprofundada sobre como raça, gênero e classe estruturam as opressões vividas por mulheres negras.
No livro “Interseccionalidade” (2019), a autora contribui para o fortalecimento do feminismo negro ao evidenciar como as políticas públicas e os movimentos sociais precisam considerar as especificidades das mulheres negras e periféricas para combater as desigualdades de forma eficaz.

3. Jurema Werneck
Jurema Werneck é médica, comunicóloga ativista, atual diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil e uma das intelectuais mais importantes da luta pelos direitos das mulheres negras.
A autora se destaca por sua atuação na defesa da equidade racial e do acesso à saúde. Nas obras “Racismo, Saúde e Cidadania (1995) e “O Livro da Saúde das Mulheres Negras: Nossos Passos Vêm de Longe” (2006), Werneck denuncia as desigualdades raciais no sistema de saúde e a negligência do Estado diante da vulnerabilidade da população negra, destacando a urgência de um feminismo que considere uma experiência histórica das mulheres negras no país.

4. Sueli Carneiro
Fundadora do Geledés Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro tem uma trajetória marcada pela luta contra o racismo e o sexismo nas políticas públicas e na sociedade, e é reconhecida como referência do feminismo negro.
No livro “Mulheres Negras e o Feminismo” (2003), a filósofa explora o conceito de epistemicídio e expõe como o pensamento negro é historicamente silenciado e marginalizado no Brasil. Sueli Carneiro segue como uma voz potente na construção de um feminismo antirracista, pautando a importância da autonomia intelectual e política das mulheres negras.

5. Maria Beatriz Nascimento
Historiadora, poetisa e cineasta, Maria Beatriz Nascimento foi fundamental para compreender a identidade negra como instrumento de autoafirmação racial, intelectual e existencial.
Em “Terra de Quilombos, Terras de Esperança” (1985), a intelectual explora o significado dos quilombos como espaços de resistência negra e o entendimento das potências femininas negras inseridas neste ambiente, e os relaciona com às favelas.
Sua participação no documentário “Ôrí” (1989), dirigido por Raquel Gerber, traz um olhar crítico sobre a diáspora africana e a trajetória da população negra no Brasil. Beatriz Nascimento deixou um importante legado ao conectar a luta quilombola com o feminismo negro, ressaltando o papel das mulheres na preservação da cultura e na resistência ao racismo estrutural.
A pesquisadora dá nome ao primeiro programa federal exclusivo para cientistas negras, indígenas, quilombolas e ciganas e está inscrita no livro de Heróis e Heroínas da Pátria desde 2023.
