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‘Transfobia de Estado escancarada’: Erika Hilton denuncia mudança de gênero em visto para os EUA

Deputada brasileira afirma que documento oficial a identificou com o gênero masculino, desrespeitando sua identidade e documentos brasileiros
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

— Lula Marques/Agência Brasil

16 de abril de 2025

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) revelou nesta quarta-feira (16) que o governo dos Estados Unidos a classificou como com o gênero masculino no visto diplomático emitido para sua participação na Brazil Conference 2025, evento realizado na Universidade de Harvard e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

Hilton havia recebido um convite oficial para palestrar no evento. O nome e identidade da deputada constavam como mulher nos documentos brasileiros, incluindo a certidão de nascimento retificada. Mesmo assim, o visto, concedido pela embaixada americana em 3 de abril, registrou seu gênero como masculino. Diante da situação, a deputada optou por não embarcar para os Estados Unidos.

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“Uma expressão escancarada da transfobia de Estado”

A parlamentar classificou a ocorrência como “transfobia de Estado” e criticou a gestão do presidente Donald Trump, responsável por reverter políticas de inclusão da administração anterior. 

Segundo Hilton, sua equipe seguiu os trâmites habituais junto à embaixada dos EUA, com a solicitação do visto feita em nome da Câmara dos Deputados. Ainda de acordo com a deputada, o documento anterior, emitido em 2023, reconhecia sua identidade de gênero corretamente como mulher.

“Se a embaixada dos EUA tem algo a falar sobre mim, que falem baixo, dentro do prédio deles. Cercado, de todos os lados, pelo nosso Estado Democrático de Direito”, destacou em publicação nas suas redes sociais.

Repercussão política e diplomática

Erika Hilton afirmou que o episódio representa uma afronta à soberania brasileira, já que ignora documentos oficiais emitidos por outro Estado. “É absurdo que o ódio que Donald Trump nutre e estimula contra as pessoas trans tenha esbarrado em uma parlamentar brasileira indo fazer uma missão oficial em nome da Câmara dos Deputados”, declarou.

A parlamentar informou que pretende acionar instâncias internacionais e buscar resposta do Itamaraty. “Quando praticada nos Estados Unidos, ainda pede uma resposta das autoridades e do Poder Judiciário americano. Mas, quando invade um outro país, pede também uma resposta diplomática”, pontuou.

Hilton ainda refletiu sobre o significado político do episódio: “O que me preocupa é um país estar ignorando documentos oficiais acerca da existência dos próprios cidadãos, e alterando-os conforme a narrativa e os desejos de retirada de direitos do presidente da vez.”

A deputada também associou o caso a uma agenda de ódio global. “Essa lista de alvos continua crescendo, e faz parte de uma agenda política de ódio que não para nos EUA. Mas, aqui no Brasil, é uma agenda que já derrotamos uma vez. E derrotaremos quantas vezes forem necessárias.”

Mudanças nos EUA sob Trump

A mudança no visto ocorre em um momento em que o governo do presidente Donald Trump reverte políticas de inclusão implementadas pela gestão anterior.

Desde o retorno de Trump à presidência dos EUA em 2025, medidas têm sido adotadas para restringir direitos das pessoas LGBTQIAPN+. Entre elas, estão a proibição de redesignações de gênero para menores, o bloqueio do marcador de gênero “X” em passaportes e o fim de programas de diversidade e inclusão em instituições públicas.


À Alma Preta, Assessoria de Imprensa da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil alegou que “os registros de visto são confidenciais conforme a lei americana” e, por política, não comenta casos individuais. Ainda alegou que “de acordo com a Ordem Executiva 14168, é política dos EUA reconhecer dois sexos, masculino e feminino, considerados imutáveis desde o nascimento“.

Texto atualizado às 14h55 do dia 16 de abril de 2025.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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