A revista Platô lança no dia 23 de abril a edição especial “Intersecção: Uso da Terra, Política de Drogas e Justiça Climática”. A publicação reúne 17 artigos de especialistas de diversas áreas e propõe uma abordagem inédita ao conectar a guerra às drogas à emergência climática e à violência nos territórios.
A iniciativa é fruto da colaboração entre a Iniciativa Negra, a Plataforma Brasileira de Política de Drogas e a International Coalition on Drug Policy Reform and Environmental Justice.
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A proposta central do projeto é mostrar como as políticas proibicionistas comprometem a governança territorial, impedem a justiça climática e aprofundam desigualdades históricas. A edição convida o público a refletir sobre temas como grilagem, narcotráfico, racismo ambiental, criminalização das periferias e populações indígenas, devastação da biodiversidade e saúde pública.
Conflitos territoriais, racismo e narcotráfico
Entre os autores estão nomes como a liderança indígena Walela Paiter Suruí, a socióloga Nathália Oliveira, a jornalista Mariana Belmont, o neurocientista Renato Filev, o historiador Dudu Ribeiro e a escritora Juliana Borges. Os textos abordam as diversas faces da guerra às drogas e seus impactos em territórios e biomas.
Um dos artigos, assinado por Rebeca Lerer e Renato Filev, destaca que “cerca de 58% das prisões por crimes de drogas no Brasil são por porte de até 150 gramas de maconha”, e que grande parte dessa droga é produzida em latifúndios no Paraguai, em conexão com o mercado de cocaína e armas. A presença desses mercados fomenta a violência rural, a grilagem e o desmatamento.
Outro texto, da jornalista Midiã Noelle, ressalta que mais de 60% da população carcerária brasileira é negra, e a maioria está presa por crimes relacionados à guerra às drogas. O dado evidencia o caráter seletivo e racista da política de segurança pública.
A relação entre tráfico de drogas e degradação ambiental também é tratada. Letícia Benavalli aponta que áreas protegidas da Mata Atlântica são usadas por organizações criminosas para atividades ilegais, resultando em desmatamento e ameaça à biodiversidade, como no caso da onça-pintada.
Já Adriana Ramos expõe como a mudança de rotas do tráfico de cocaína para hidrovias amazônicas agravou a violência nas comunidades ribeirinhas. Entre 1991 e 2020, a taxa de homicídios na Amazônia passou de 18 para 31 assassinatos por 100 mil habitantes.
Racismo e política de drogas: obstáculos à justiça climática
Para Rebeca Lerer, “não haverá justiça climática enquanto persistir o modelo de guerra às drogas”. Em material de divulgação, Lerer afirma que a proibição de plantas como coca e maconha alimenta a violência e impede ações efetivas de preservação ambiental. Nathália Oliveira, da Iniciativa Negra, reforça que “não dá pra fazer justiça climática sem considerar o racismo presente nas decisões sobre uso da terra”, disse no mesmo material.
A revista busca contribuir com os debates nacionais e internacionais em torno da COP 30, que ocorrerá em Belém, em 2025. A proposta é destacar o papel do Brasil como elo entre as cadeias produtivas ilegais de drogas e os impactos territoriais e climáticos desse sistema.
A versão impressa será lançada presencialmente em 24 de abril, no Bloco do Beco, em São Paulo. Outros eventos estão previstos para Brasília (maio), Belém (junho), Salvador (julho) e Rio de Janeiro (agosto). A edição digital estará disponível gratuitamente on-line.