Apesar de ser considerado um país aliado da França na região, a Costa do Marfim está afastando a memória da ex-metrópole de diversas ruas em várias de suas cidades em um processo oficialmente descrito como uma modernização de seu sistema de nomes de ruas.
A maior cidade da Costa do Marfim, Abidjã, mudou recentemente o nome da via que liga seu aeroporto ao centro da cidade. O nome da via não é mais o do ex-presidente francês Valerie Giscard d’Estaing, mas de Felix Houphouet-Boigny, o primeiro líder marfinense após a independência da França, em 1960.
Na mesma cidade, o boulevard Marseille, nomeado em referência à cidade do sul da França, chama-se agora boulevard Philippe Yace, em homenagem ao primeiro presidente do parlamento marfinense. Já o boulevard de France agora leva o nome da primeira-dama do país, Marie-Therese Houphouet-Boigny.
Em entrevista à agência AFP, o responsável pelo projeto de planejamento urbano, Alphonse N’Guessan, afirmou que os nomes antigos das vias “não eram necessariamente usados por nosso povo” e acrescenta que esses nomes devem “refletir nossa história, nossa cultura”.
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Com a mudança, diversas vias do país passam a homenagear políticos, cientistas, artistas, atletas ou conceitos marfinenses. A escolha dos nomes é feita em consulta à sociedade civil ou lideranças tradicionais locais.
O projeto é financiado pelo Banco Mundial com custo estimado de US$ 17 milhões (cerca de R$ 96,5 milhões). Segundo N’Guessan, o objetivo é que os sistemas de trânsito e localização do estejam em conformidade com os padrões internacionais.
O processo de mudança de nomes em Abidjã teve início em 2021, mas somente a partir de março deste ano as placas com novos nomes passaram a ser instaladas. Cerca de outras 15 vilas e cidades marfinenses também terão mudanças em nomes de ruas. A expectativa é de que o projeto seja concluído até 2030.
Em toda a região da África Ocidental, diversos países tem tomado uma postura de ruptura com a França. É o caso, por exemplo, de Níger, Burkina Faso e Mali, que lideram um movimento de rejeição ao passado colonial francês e sua continuidade.
Apesar da mudança em seu entorno, a Costa do Marfim, que esteve sob domínio francês de 1893 a 1960, não é parte desse movimento e segue sendo vista como uma aliada de Paris na região.