No centro do Pelourinho, coração de Salvador, um novo conceito da gastronomia afrodiaspórica se instala em uma das regiões mais simbólicas e históricas para a população mais negra fora de África. Inaugurado no mês de novembro, o restaurante Roma Negra traz uma proposta de espaço voltado para a alta gastronomia aliada ao resgate cultural e ancestral através da comida, da arte e da musicalidade.
Administrado pelas empresárias Mônica Tavares e Diana Rosa, o empreendimento também conta com um ambiente de bar, exposição e venda de esculturas da Katuka Africanidades, uma das parceiras do projeto, além de um painel com um mosaico de mais de 100 personalidades negras.
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“Para nós, a importância é conectar as pessoas, nossa contemporaneidade com o nosso passado, com a nossa história, nosso jeito de andar, vestir, nossa comida, nossa musicalidade, arte”, diz a empresária Mônica Tavares à Alma Preta Jornalismo.
A escolha pelo nome Roma Negra faz referência à ialorixá mãe Aninha, do Axé Opó Afonjá, que nos anos 1930 definiu Salvador como um centro religioso de culto aos orixás, assim como a cidade de Roma é para o catolicismo. O resgate ancestral e territorial é a principal marca do novo empreendimento.
A cozinha do restaurante é liderada pela chef Carolinna Esteves, que elaborou pratos que trazem referências das culinárias de terreiro e do recôncavo baiano. Segundo a empresária Mônica Tavares, os pratos são como um passeio pela cidade.
“A gente percebeu que é a cozinha criativa usando o que a gente tem de melhor, considerando sazonalidade, fruta da época… Para comer e beber aqui, é como um passeio pela cidade, pelos hábitos dos nossos povos, da nossa família e traz muito forte a culinária de terreiro e a comida presente no recôncavo”, explica.
Para além de um restaurante, o Roma Negra também funciona como um polo cultural da região. Uma das principais salas do restaurante é decorada com uma pintura do grafiteiro e artista plástico Flávio Oliveira, nome importante na produção artística do Santo Antônio Além do Carmo, região vizinha ao Pelourinho. Durante as obras de recuperação do espaço, uma antiga obra do artista foi descoberta. A pintura de uma Frida foi restaurada em homenagem ao pintor, que morreu neste ano vítima da covid-19.
Black Money e a geração de renda e oportunidade para o povo negro
Tocar um empreendimento preto e liderado por mulheres não é novo para Mônica, que junto com Diana Rosa e as empresárias Daiane Menezes e Milena Moraes, comandam o Malembe Foods and Drinks, também no Pelourinho. Para a empresária, gerir o Malembe foi essencial para entender o mecanismo econômico e garantir a circulação de renda entre famílias pretas e empresárias/os pretas/os.
Atualmente, os dois empreendimentos, Roma Negra e o Malembe, geram 40 empregos diretos e 19 indiretos, como fornecedores locais, cooperativas entre outros, e também conta com investidores negros.
“A gente sabe da importância que é entender o mecanismo econômico. A circulação do dinheiro entre famílias pretas, empresários pretos, é algo que por muito tempo, nem sequer foi estudado. A gente fazia isso de forma inconsciente e hoje é muito presente e identificar que os consumidores estão com um nível de consciência que nos elevam para um patamar mais competitivo economicamente […] O Malembe é um dos maiores exemplos na cidade de Salvador de como o Black Money funciona e é fundamental para a geração de emprego e renda, para dar dignidade, capacidade de compra e decisão para os nossos”, comenta Mônica.
“A gente ganha e reparte na direção dos nossos”
Para além da vertente gastronômica, o Roma Negra também inclui a pauta social na sua atuação. Em parceria com o projeto ‘Minha Cesta’, o empreendimento destina parte do faturamento para a compra de cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade no Centro Histórico de Salvador.
Para Mônica, a ação é uma forma de fortalecimento em rede em prol de dar dignidade às comunidades que vivem nos territórios onde os empreendimentos estão instalados.
“Eu penso que uma empresa dentro de uma comunidade, precisa contribuir de alguma forma. Não é a comunidade que entra no território dos negócios, são os negócios que invadem – muitas vezes – a comunidade e ela faz parte daquele processo. No entorno do Centro Histórico têm famílias, crianças, estudantes, idosos e uma camada carente que precisa de assistência e às vezes a mão do Estado não supre essas necessidades. Nesse momento, acho que é o mínimo que podemos fazer como contrapartida do uso desse espaço. Mais uma vez, a gente ganha e reparte na direção dos nossos porque o objetivo é esse”, completa a empresária.
Confira mais informações sobre o restaurante Roma Negra no Instagram.
SERVIÇO
Restaurante Roma Negra
Endereço: Largo do Cruzeiro do São Francisco, n° 7 – Pelourinho
Funcionamento: segunda a domingo, das 11h às 23h
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