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Surto de cólera no Sudão mata 172 em uma semana em meio a guerra e colapso dos serviços públicos

Conflito armado e ataques a sistemas de água e energia agravam crise sanitária; capital Cartum concentra 90% dos casos em meio a condições insalubres
Um profissional de saúde usa uma roupa de proteção em um hospital onde pacientes de cólera são tratados no estado do Mar Vermelho, no Sudão, em 25 de setembro de 2024.

Um profissional de saúde usa uma roupa de proteção em um hospital onde pacientes de cólera são tratados no estado do Mar Vermelho, no Sudão, em 25 de setembro de 2024.

— Reprodução/AFP

27 de maio de 2025

O Ministério da Saúde do Sudão informou nesta terça-feira (27) que pelo menos 172 pessoas morreram por cólera em uma semana. Mais de 2.700 novos casos foram registrados no mesmo período, a maioria em Cartum, capital do país. 

O avanço da doença coincide com o agravamento da guerra civil iniciada em abril de 2023 entre as Forças Armadas sudanesas, lideradas por Abdel Fatah al-Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), chefiados por Mohamed Hamdan Daglo.

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Segundo o governo, cerca de 90% dos casos foram registrados em Cartum, onde ataques de drones destruíram estações elétricas e causaram a interrupção do fornecimento de água potável. A população passou a consumir água contaminada, contribuindo para o aumento dos casos da doença.

Colapso de serviços e infraestrutura

A cólera é uma infecção intestinal aguda causada por alimentos ou água contaminados. Embora evitável e tratável, a doença pode matar em poucas horas quando não há acesso a saneamento básico e atendimento médico. O Sudão já enfrentava surtos esporádicos da doença, mas o conflito armado tornou esses episódios mais frequentes e severos.

De acordo com Médicos Sem Fronteiras (MSF), os ataques destruíram as estações de tratamento de água, agravando a contaminação. Em Cartum, os bombardeios afetaram três centrais elétricas que mantinham em funcionamento a rede de distribuição de água.

Raphael Macieira, engenheiro civil e especialista em Água e Saneamento da MSF, esteve no Sudão em outubro de 2024 e relatou à Alma Preta, em março, o cenário de colapso. 

“As estações de tratamento de água não funcionavam porque a infraestrutura estava destruída ou sem energia. A cada novo ataque, os sistemas colapsavam novamente. Isso fez com que a população recorresse a fontes de água contaminadas, o que agravou a disseminação da cólera”, disse em entrevista.

Falta de resposta internacional

A guerra no Sudão já provocou a morte de dezenas de milhares de pessoas e o deslocamento forçado de mais de 13 milhões. A sobrecarga nos centros urbanos e campos de deslocados internos têm contribuído para a rápida propagação da doença.

Macieira relatou que, durante sua missão, encontrou cidades que haviam dobrado de população em poucos meses. “Uma cidade que antes tinha 40 mil habitantes passou a ter 80 mil, sobrecarregando os serviços básicos”, afirmou.

O especialista também criticou a ausência de cobertura midiática e a baixa mobilização da comunidade internacional em relação à crise. “Quase ninguém no Brasil sabe o que está acontecendo aqui. A naturalização do sofrimento do povo africano dificulta a mobilização de ajuda. Se essa crise ocorresse em outro contexto, a resposta internacional seria muito mais rápida”, afirmou.

Para Macieira, é urgente pressionar por ações coordenadas. “Precisamos cobrar posicionamentos e garantir que essa tragédia não passe despercebida. Sem uma ação concreta, quem sofre é a população”, concluiu.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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