A moto-entregadora Juliana Iemanjara, 34 anos, faz parte do movimento de entregadores antifascistas e também é a fundadora de A Onda Express, um serviço cooperativo de retirada e entrega de encomendas na cidade de São Paulo. A empresa foi criada para contrapor a lógica de exploração dos aplicativos a partir de cursos de empreendedorismo, feitos dentro do movimento de entregadores.
Mãe solo de dois filhos, Zaki Aquilles, de três anos, e Isis Iemanjara, de sete anos, Juliana se formou em Recursos Humanos e já trabalhou como ajudante de funilaria e pintura de automóveis.
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“Nunca coloquei preferências quando o objetivo era trabalhar. Carrego comigo muito mais que a bag nas costas. Caminho por mim, pelos meus filhos e pela luta neste mundo tão dúbio quando o assunto é direito humanos”, afirma Juliana.
O contato com o movimento antifascista foi uma virada na consciência política e nas perspectivas de desenvolvimento profissional da entregadora. Nos últimos anos, além de denunciar práticas abusivas, jornadas extenuantes e falta de transparência nos valores estipulados pelos aplicativos, o movimento também promoveu diversas paralisações pelo país.
“A minha noção interna de política teve que aflorar e ir para as ruas com um grito forte de liberdade e conscientização. Não fazia sentido algum ser tão explorada pelos aplicativos sem nenhum retorno, auxílio ou benefícios”, relembra.
O logotipo da Onda Express, de acordo com a explicação de Juliana, simboliza as diversas lutas que estão enraizadas na busca por emancipação e respeito. “A Onda representa o movimento constante, pois é assim que temos que ser. As cores remetem à liberdade sem preconceito e com a mulher negra, em destaque, na representação da raça”, conta.
A estruturação desse serviço se deu a partir de um curso sobre cooperativismo, com horários de aulas flexíveis, organizado pelo movimento dos entregadores antifascistas. Mas, o serviço já iniciou antes, em outubro de 2020.
O projeto do curso prático para a formação de cooperativas de entregadores foi uma iniciativa do departamento jurídico do Movimento Antifascistas e contou com o apoio dos membros do coletivo e professores voluntários.
“Ao longo do curso, a gente vai aplicando o conteúdo no nosso dia-a-dia. É muito gratificante fazer parte disso. É como plantar a semente de uma árvore que, certamente, vai dar bons frutos”, comenta a ativista.
Um dos pontos que diferenciam a proposta da A Onda Express e os demais aplicativos de entrega é a lógica de composição dos preços, de acordo com os serviços solicitados pelo cliente. Por exemplo, são levados em conta os custos que o entregador terá para chegar até o cliente e retirar a encomenda. A Onda também faz a intermediação entre empresas que precisam de serviços de entrega e os entregadores.
“A ideia é estabelecer a empatia. O contratante precisa entender que os valores são justos, pois envolve o comprometimento e a dedicação do entregador”, explica a fundadora da empresa, que tem como lema “coisas boas acontecem quando pessoas boas atuam”.