A educadora Elisa Lucas Rodrigues, de 67 anos, foi presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo e, atualmente, é secretária-executiva adjunta de Promoção da Igualdade Racial na capital. Ela é responsável pela organização das políticas afirmativas, pautas antirracistas e combate ao racismo na cidade.
“A criança negra, o menino negro e a menina negra, tem que saber que o racismo existe. É triste encontrar a população negra no negacionismo; e não é o da vacinação, não. É aquele que nega que exista o preconceito, diz que somos todos iguais. Não existe isso, nós, negros, somos tratados de modo diferente, existe o racismo e o preconceito. Tudo começa, na minha opinião, pela alfabetização, pelo ensino da nossa história e pelo ensino dos nossos direitos”, afirma Elisa.
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Em São Paulo, 37% dos cerca de 12 milhões de moradores se autodeclaram negros. Atualmente, existem oito centros de referência da promoção da igualdade racial, que atendem todas as regiões. Segundo a secretária-executiva, a meta é ampliar os pontos de atendimento e divulgar mais os serviços.
“Os centros foram criados para atender as demandas de reclamação de discriminação e racismo da população negra, da população indígena e dos povos ciganos; e contam com advogados, psicólogos e assistentes sociais. Antigamente, a gente via um caso de discriminação e o foco era a questão jurídica, o processo judicial. Com a nossa experiência na CPIR ( Coordenação de Promoção da Igualdade Racial), notamos que a primeira coisa que a pessoa que sofre discriminação precisa é de acolhimento. Alguém que a ouça. Pode ser a assistente social, que depois encaminha para a psicóloga. Muita gente chega aqui e chora, chora muito, e depois diz ‘que bom que vocês me ouviram’”, pontua a secretária.
A prefeitura de São Paulo também tem o desafio de enfrentar o racismo e a discriminação dentro da própria estrutura organizacional do município. Um exemplo disso é a imprecisão nos dados sobre o total de funcionários negros e suas presenças em cargos de comando e chefia. Isso cria dificuldades para a elaboração de políticas afirmativas no funcionalismo.
“Hoje, na administração direta da prefeitura, temos 28,6% de pessoas que se autodeclaram negras. Entre os comissionados são 24,2% de negros. Mas temos uma preocupação em relação aos dados porque nem todos fazem a autodeclaração. Vamos fazer uma campanha dentro da prefeitura para que o quesito raça/cor seja obrigatório. Além de melhorar a coleta de dados sobre o recorte racial no funcionalismo municipal, também estamos fazendo jornadas antirracistas nos departamentos de RH das secretarias e subprefeituras. Essa força-tarefa é importante para que a questão racial entre na pauta do dia-a-dia”, coloca Elisa.
Nas últimas eleições, uma das promessas do candidato Bruno Covas (PSDB) para a reeleição era ampliar o quadro de pessoas negras no primeiro escalão da administração. Na época, o prefeito reconheceu que tinha apenas uma mulher negra à frente de um órgão público, no caso a GCM (Guarda Civil Metropolitana). Após oito meses da posse, o cenário apresenta poucas mudanças.
“Aumentou, não na proporção que a gente gostaria. Temos a Ingrid, que é secretária-adjunta da Cultura. Tem alguns subprefeitos negros também. Temos alguns chefes e coordenadores negros em secretarias. Espero que sejam nomeadas mais pessoas negras”, diz a secretária.
Sobre as homenagens a figuras escravocratas e que participaram do genocídio da população negra e indígena, ela defende que sejam feitas consultas públicas para ouvir a opinião dos moradores da cidade, que sejam erguidas mais estátuas de pessoas negras e adiantou a instalação do memorial dos Aflitos, no bairro da Liberdade, para resgatar a história dos negros na cidade.