O prêmio máximo da gastronomia brasileira, neste ano, pertence a uma mulher negra, nordestina e de axé. A chef Mãe Neide Oyá D’Oxum venceu a categoria nacional no Dólmã deste ano. A também Ialorixá e fundadora do Grupo União Espírita Santa Bárbara (GUESB), usa da releitura dos pratos de terreiro e da sua ancestralidade para fazer do alimento ferramenta de informação e resistência em Alagoas, no Nordeste do Brasil.
Emocionada, a alagoana, que é patrimônio vivo do Estado, agradeceu o reconhecimento e publicou um vídeo onde declara que aceita as responsabilidades do título nacional e afirma que vai honrar o reconhecimento valorizando as riquezas históricas, turísticas e econômicas do seu estado e do país. Em 2017, Mãe Neide já havia sido contemplada pelo mesmo prêmio, mas na categoria estadual.
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A última fase da premiação foi composta por quatro homens e apenas Mãe Neide de mulher. Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, ela afirma que alcançar o título é sinônimo de reconhecimento da história das mulheres negras que fazem parte da sua linhagem ancestral.
“Sendo mulher preta, periférica e de axé, o título é algo maravilhoso. Recebo o prêmio como se estivesse na janelinha de toda a minha ancestralidade. Olho para trás e reverencio quem me ensinou a cozinha, minha avó, a cozinha do terreiro e as mulheres negras de axé. Feliz em representar a nossa relação com o alimento e a forma que o compartilhamos na nossa tradição”, declara a chef.
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Mãe Neide ainda destaca a importância da valorização de todos os profissionais que integram o universo da cozinha, não só aqueles que têm ou tiveram a oportunidade de ter a gastronomia enquanto formação acadêmica.
“O prêmio é um grande reconhecimento não só para quem tem a gastronomia como formação, mas, sim, para todos os cozinheiros. Acredito que ele seja uma forma de apresentar e valorizar a nossa cultura e a profissão que é tão maravilhosa”, afirma a vencedora.
Nome importante na consolidação e reconhecimento da Serra da Barriga, onde hoje faz presente o seu restaurante, Baobá, Mãe Neide conta que está esperançosa sobre os próximos passos do acesso à culinária ancestral em Alagoas depois dos impactos gerados pela pandemia da COVID-19. Mãe Neide ainda conta novidades que, em breve, estarão disponíveis.
“Quero dar continuidade ao Baobá, a cozinha dos nossos ancestrais e mostrar a cozinha do sagrado de uma forma repaginada, para que a sociedade conheça ainda mais a nossa história através dos nossos alimentos. A riqueza cultural do Brasil, incluindo a nossa história, será discutida em breve em uma live, que pretendo ligar as especificidades com representantes de cada região. Acredito que agora no segundo semestre, em novembro, saia um livro sobre a minha biografia e um de receitas”, finaliza, entusiasmada.
Outros reconhecimentos
Em 2018, Mãe Neide foi eleita Embaixadora da Gastronomia Alagoana, por sua relação com a comida de santo e de tradição quilombola, podendo ser degustada no restaurante Baobá, na Serra da Barriga. Em 2014, recebeu o título de cidadã maceioense – mesmo nascida no município de Arapiraca, também em Alagoas – e em 2013 o de cidadã Palmarina.
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