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Morre Thiago, rapaz negro baleado por PM quando ia comprar leite

 Jovem com deficiência intelectual estava internado desde o dia 8 de abril; cabo que atirou disse na delegacia que Thiago estava armado, porém a família contesta

Texto: Juca Guimarães I Edição: Pedro Borges I Imagem: Arquivo da família

21 de abril de 2021

O jovem negro Thiago Duarte de Souza, de 20 anos, morreu na madrugada desta quarta-feira (21), no Hospital Geral de São Mateus, na zona Leste, onde estava internado desde o dia 8 de abril. Ele foi baleado na boca pelo cabo da PM Denis Augusto Amista Soares, que estava de folga.

“Fiquei quase 15 dias sem poder ver o meu filho no hospital. Não tiveram dó de mim. Ele ficou na UTI, melhorou um pouco, foi para o quarto, disseram que estava mexendo a cabeça, mas não liberaram a visita. Agora só quero Justiça para o meu filho”, disse Queli Duarte, 40 anos, mãe de Thiago.

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O crime aconteceu de manhã, quando o jovem foi comprar pão e leite no Mercado da Praça, no Jardim Limoeiro, na Zona Leste de São Paulo, que fica bem ao lado onde a família do Thiago mora. O policial militar, sem uniforme, abordou Thiago e o rapaz chegou a levantar a camisa para mostrar que não estava armado e que ia só comprar pão e leite. Mesmo assim, ele foi atingido com um tiro na boca e ficou agonizando no chão até chegar socorro médico. Antes chegaram diversas viaturas da PM, que foram gravadas por testemunhas. Nas imagens, os policiais caminham em torno do corpo ferido de Thiago e de um outro rapaz que está imobilizado no chão.

De acordo com a mãe do jovem, os policiais que chegaram no local após o ocorrido não apuraram a história contada pelo homem que atirou no filho dela. ”Eles foram lá e pegaram as imagens das câmeras de segurança do mercado. O próprio policial que atirou no meu filho foi até o hospital para ver se ele estava vivo”, conta.

Thiago estava usando camiseta, bermuda e chinelo na hora em que foi baleado. “Desde pequeno até o começo da adolescência, ele fazia tratamento com psicóloga e psiquiatra no Hospital das Clínicas. Ele não guardava as coisas na cabeça, não sabia dizer o nome dos pais completo, endereço, nada disso. Não sabe ler e nem escrever. Ele tem 20 anos, mas é como se não tivesse. A idade mental dele era outra”, conta a mãe.

Na delegacia, sem que outras testemunhas fossem ouvidas ou apuradas as imagens das câmeras de segurança do entorno, o cabo Denis Augusto Amista Soares foi ouvido e foi decretada a prisão preventiva do Thiago que, mesmo internado em estado grave, passou a ficar algemado na cama e sob escolta policial.

A Defensoria Pública de São Paulo chegou a pedir uma liminar para que Thiago pudesse receber tratamento médico sem estar algemado, mas o pedido foi negado pelo juiz Zorzi Rocha, da sexta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Um dia após o crime, a Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo informou que ia acompanhar o caso. O ouvidor Elizeu Soares Lopes fez um encaminhamento de “conhecimento e providências” para a Corregedoria da Polícia Militar e para o Departamento de  Polícia Judiciária da Capital.

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