“Ser mãe solo é equilibrar muitos pratinhos ao mesmo tempo. É não ter com quem dividir as decisões, os medos, o cansaço. É saber que, mesmo com ajuda financeira, você está sozinha emocionalmente, no dia a dia, nas madrugadas em claro, nas consultas médicas, nos choros sem explicação”, relata a estudante de designer de interiores Adara César, de 29 anos, mãe de Martin, de 1 ano e 11 meses.
Ela, que mora no município de Marechal Deodoro, na Região Metropolitana de Maceió, vive os desafios da maternidade solo desde a descoberta da gravidez. Adara conta que o pai da criança não esteve presente nem mesmo nos primeiros momentos da gestação.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
“No primeiro teste, o pai do meu filho saiu para comemorar — passou o final de semana inteiro festejando com os amigos. […] E em nenhum momento ele comemorou comigo”, relembra.
Desde então, a estudante percebeu que precisaria lidar sozinha com as dores e responsabilidades da maternidade — algo que se tornou ainda mais evidente durante o puerpério.
A rotina também é atravessada por obstáculos sociais e estruturais. Um deles é o transporte público, onde, muitas vezes, falta sensibilidade com mães acompanhadas de crianças pequenas. “As pessoas não se mobilizam para ajudar uma mãe solo com criança”, conta. Para Adara, ser mãe solo é uma tarefa árdua que exige força, resiliência e fé: “Acho que a fé me ajuda bastante nisso.”
Mães negras solo: sobrecarga e construção de redes de apoio
Assim como a realidade vivida por Adara, a maternidade no Brasil impõe desafios profundos, especialmente para as mulheres negras, mães solo. O racismo, a desigualdade de gênero, a falta de apoio e a solidão intensificam essas dificuldades, criando uma realidade marcada pela exclusão.
No entanto, diversos grupos de mães e projetos espalhados pelo país estão se dedicando a apoiar, empoderar e transformar a realidade das mães negras periféricas, enfrentando as barreiras do racismo e da desigualdade social para promover mudanças profundas e significativas.
Dados apresentados no artigo “Mães solo no mercado de trabalho crescem 1,7 milhão em dez anos”, publicado em maio de 2023 pela Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que as mães solo negras foram as principais responsáveis pelo crescimento desse grupo no Brasil entre 2012 e 2022.
O total de domicílios chefiados por mães solo aumentou de 9,6 milhões para 11,3 milhões — uma alta de 17,8%. Cerca de 90% desse crescimento se deve às mulheres negras (pretas e pardas), cujo número passou de 5,4 milhões para 6,9 milhões no período analisado.
Veja iniciativas de apoio a mães negras
Essas iniciativas mencionadas acima são criadas por e para mulheres negras, que entendem a maternidade como uma experiência que merece ser respeitada, protegida e reconhecida em toda a sua complexidade, se afastando das idealizações que minimizam muitas vezes os desafios e romantizam a resistência a todo custo. Conheça nove delas a seguir:
1. Coletivo de Apoio à Maternidade Solo – São Paulo (SP)
O Coletivo de Apoio à Maternidade Solo tem como objetivo arrecadar doações para apoiar famílias chefiadas por mulheres em situação de insegurança alimentar e expostas a diversas vulnerabilidades sociais.
Sua missão é garantir que essas mães saibam que não estão sozinhas. Por meio de grupos no WhatsApp, o coletivo organiza a coleta de alimentos e outros itens essenciais, como cestas básicas, leite, ovos, frutas, verduras e fórmulas infantis para bebês que não estão sendo amamentados.
Contatos: (11) 98888-6118 ou WhatsApp (11) 95454 2989
2. Associação das Mulheres Dalva Paixão – São Paulo (SP)
A Associação União das Mulheres Dalva Paixão, fundada em 1990 em São Paulo, é uma organização sem fins lucrativos dedicada à promoção dos direitos das mulheres e ao fortalecimento das famílias. Suas ações incluem a luta pelo direito à casa própria, além de buscar melhorias na infraestrutura dos conjuntos habitacionais construídos pela CDHU.
Contatos: (11) 92013-4628 / [email protected]
3. Mães Pretas – Porto Alegre (RS)
A Associação Mães Pretas promove projetos como o Kilombinho de Verão, Gira de Leituras e Seminários, além de manter um grupo ativo no WhatsApp para trocas constantes. Com mais de 80 mães pretas associadas, valoriza e fortalece a maternidade negra.
Contato: e-mail: [email protected]
4. Criola – Rio de Janeiro (RJ)
A Criola, organização da sociedade civil criada em 1992, atua na defesa dos direitos das mulheres negras, com foco no combate ao racismo estrutural e às desigualdades de gênero. Seu trabalho abrange áreas como saúde, educação e justiça, com ênfase na garantia da saúde reprodutiva e na luta por um atendimento obstétrico digno, frente à elevada mortalidade materna entre mulheres negras.
Contatos: (21) 2518-7964 / (21) 98478-1627 / [email protected]
5. Grupo Curumim – Recife (PE)
O Grupo Curumim é uma organização feminista e antirracista que, desde 1989, atua na promoção dos direitos das mulheres, com foco na saúde, nos direitos sexuais e reprodutivos, e na luta contra a violência.
Nascido da experiência de mulheres com a maternidade e o parto, o grupo se tornou referência na humanização do atendimento obstétrico, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Também atua na defesa do aborto legal e seguro e integra articulações nacionais e internacionais em prol da saúde e dos direitos das mulheres.
Contato: (81) 98580‑7506 – WhatsApp
6. Ciranda Acolhedora – São Paulo (SP)
A Ciranda Acolhedora é uma rede comunitária formada por mulheres negras, que promove o acolhimento para famílias negras na periferia de São Paulo. Idealizado por Edite Neves, o projeto que conta com uma abordagem interdisciplinar inclui o uso de fitoterapia, práticas de autocuidado e rodas de conversa.
7. Mães Negras do Brasil (Plataforma online)
A Mães Negras do Brasil é uma Social Tech criada com o intuito de promover conexão, empoderamento e ação, desbloqueando o potencial das mães negras por meio de um espaço seguro e acolhedor. O projeto inicia com a construção de uma comunidade virtual voltada para reunir mães negras, formando uma rede de apoio e troca, além de desenvolver produtos e serviços direcionados a esse público.
8. Nzinga Coletivo de Mulheres Negras – Belo Horizonte (MG)
O N’zinga Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte celebra 33 anos de luta e resistência, se consolidando como uma referência na articulação e execução de ações em Minas Gerais. Além disso, tem como missão lutar contra as diversas formas de discriminação e opressão racial e de gênero, buscando, tanto no âmbito individual quanto coletivo, superar o preconceito e a exclusão, e promover alternativas para a inclusão política e social das mulheres negras.
Contato: [email protected]
9. Somos Todas Marianas – São Luís (MA)
O Somos Todos Marianas é uma rede de apoio dedicada a mulheres em situações de vulnerabilidade social, com o objetivo de ajudá-las a superar ciclos de violência e promover a conscientização pública sobre as diferentes formas de agressão que afetam as mulheres.
Contato: [email protected]