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A ‘mente perigosa’ de Malcolm X ajudou a moldar o rap brasileiro nos anos 90

19 de agosto de 2020

Ativista negro, assassinado em 1965, inspirou uma geração talentosa de rappers brasileiros; releitura de “Voz Ativa”, música dos Racionais MC’s que cita o militante, será lançada nesta semana pelos rappers Dexter, Coruja BC1, Djonga, KL Jay e DJ Will

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Michael Ochs Archives/Getty Images

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Líder cativante, ótimo orador e um homem com a mente perigosa, foram algumas das características atribuídas ao ativista Malcolm X nos relatórios e gravações feitos pelo FBI, a agência federal de investigações dos Estados Unidos. Para além da preocupação que provocava no governo americano, durante as tensões da luta por direitos civis, a voz ativa do ativista reverberou na raiva e na indignação de jovens negros ao redor do planeta durante décadas.

No Brasil, os grupos de rap formados entre o final da década de 1980 e início da década de 1990 foram fortemente influenciados pelos discursos de Malcolm X, assassinado no início de 1965, aos 39 anos de idade, durante uma palestra e na frente da esposa e das filhas.

Malcolm era contundente ao falar de violência policial e do racismo. O discurso dele tinha identificação imediata com a realidade dos jovens negros brasileiros. “Todo caso de brutalidade policial contra um negro segue o mesmo padrão. Eles te atacam, colocam você de cabeça para baixo. Depois te levam para o tribunal e te acusam de agressão. Que democracia é essa?”, disse o ativista, em um dos inúmeros discursos.

Os rappers Dexter, Mano Brown, DJ KL Jay, entre outros nomes do rap brasileiro, foram influenciados pelas ideias de Malcolm X relacionadas à valorização da cultura negra e autoestima do povo preto. Os artistas seguiram seus ensinamentos de busca pelo conhecimento.

“Rezo para que cresça intelectualmente, para que possa entender os problemas do mundo e onde você se encaixa nesse mundo”, recomendou Malcolm X.

Em 1992, o grupo Racionais MC’s lançou o EP “Siga o Seu Caminho” com a música “Voz Ativa”, que cita nominalmente Malcolm X e relaciona os principais problemas do racismo estrutural da época. “Precisamos de um líder de crédito popular como Malcolm X, em outros tempos, foi na América. Que seja preto até os ossos. Um dos nossos. E que reconstrua o nosso orgulho que foi feito em destroços”, diz a letra escrita por um Mano Brown, aos 22 anos de idade.

Em 2020, Dexter convidou os rappers Djonga e Coruja para regravar a música, que ganhou relevância em um momento de alta de visibilidade da pauta antirracista e contra violência policial. A batida da versão 2020 é uma releitura do DJ KL Jay em parceria com o DJ Will.

“Eu passei por situações de racismo todos os dias e em todas as escolhas em que passei na vida. O rap me trouxe uma coisa diferente na vida. Ele trouxe esperança e alimentou sonhos”, afirma Dexter.

A releitura de “Voz Ativa” será lançada no dia 21 de agosto, acompanhada de um videoclipe gravado na Favela da Felicidade, na Zona Sul de São Paulo.

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