A presidência de Angola anunciou que mediará negociações diretas entre o governo da República Democrática do Congo (RDC) e o grupo armado M23. O anúncio ocorreu após um encontro em Luanda entre o presidente angolano João Lourenço e o presidente congolês Félix Tshisekedi, que até então se recusava a dialogar com o grupo rebelde.
O M23, que conta com o apoio de cerca de 4.000 soldados ruandeses segundo especialistas da ONU, retomou suas ações militares em 2021 e atualmente controla vastas áreas das províncias de Nord-Kivu e Sud-Kivu, na fronteira com Ruanda. O grupo tomou Goma no final de janeiro e Bukavu em meados de fevereiro, fortalecendo sua posição na região.
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Kinshasa acusa Ruanda de explorar ilegalmente os recursos minerais dessas províncias e rejeita qualquer tentativa de negociação direta com o M23, classificado pelo governo congolês como uma organização terrorista.
A presidência da RDC reagiu com cautela ao anúncio da Angola. “Tomamos nota das iniciativas da mediação angolana e aguardamos a implementação dessa abordagem”, declarou Tina Salama, porta-voz do presidente Tshisekedi.
Esforços diplomáticos anteriores e riscos de escalada
Em dezembro, um encontro entre Tshisekedi e o presidente ruandês Paul Kagame, previsto para ocorrer em Luanda, foi cancelado devido à negativa de Kinshasa em negociar diretamente com o M23. Em fevereiro, o grupo rebelde reafirmou seu compromisso com um diálogo direto para resolver as causas do conflito e estabelecer uma paz duradoura.
A crise se intensificou ao longo de 2024 e a ofensiva do M23 já deixou mais de 7 mil mortos desde o início do ano, segundo Kinshasa. Paralelamente, a RDC colocou uma recompensa milionária pela captura dos líderes do grupo rebelde.
A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a Comunidade da África Oriental (EAC) pediram um cessar-fogo imediato e designaram o ex-presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, para intermediar um acordo, mas os esforços não obtiveram sucesso até o momento.
Além do envolvimento de Ruanda e da RDC, a crescente proximidade dos combates com o Burundi e o envio de tropas ugandesas para o leste congolês levantam temores de uma escalada regional do conflito.
Desafios e próximos passos
A adesão ao processo de negociação, ofertada por Angola, não garante um desfecho rápido para o conflito. O M23 já manifestou interesse no diálogo, mas reivindica maior autonomia para as regiões que controla, uma demanda que Kinshasa rejeita.
Além disso, a instabilidade política na RDC e as críticas internas à gestão de Tshisekedi complicam ainda mais o cenário. O ex-presidente Joseph Kabila, que governou o país entre 2001 e 2019, afirmou recentemente que a crise não se deve apenas ao avanço do M23, mas também a falhas de governança da administração atual.