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Angola vai mediar acordo de paz entre República Democrática do Congo e grupo M23

Presidente congolês Félix Tshisekedi aceita mediação angolana após anos de impasse
João Lourenço, presidente da Angola, em fevereiro de 2025.

João Lourenço, presidente da Angola, em fevereiro de 2025.

— Amanuel Sileshi/AFP

12 de março de 2025

A presidência de Angola anunciou que mediará negociações diretas entre o governo da República Democrática do Congo (RDC) e o grupo armado M23. O anúncio ocorreu após um encontro em Luanda entre o presidente angolano João Lourenço e o presidente congolês Félix Tshisekedi, que até então se recusava a dialogar com o grupo rebelde.

O M23, que conta com o apoio de cerca de 4.000 soldados ruandeses segundo especialistas da ONU, retomou suas ações militares em 2021 e atualmente controla vastas áreas das províncias de Nord-Kivu e Sud-Kivu, na fronteira com Ruanda. O grupo tomou Goma no final de janeiro e Bukavu em meados de fevereiro, fortalecendo sua posição na região.

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Kinshasa acusa Ruanda de explorar ilegalmente os recursos minerais dessas províncias e rejeita qualquer tentativa de negociação direta com o M23, classificado pelo governo congolês como uma organização terrorista.

A presidência da RDC reagiu com cautela ao anúncio da Angola. “Tomamos nota das iniciativas da mediação angolana e aguardamos a implementação dessa abordagem”, declarou Tina Salama, porta-voz do presidente Tshisekedi.

Esforços diplomáticos anteriores e riscos de escalada

Em dezembro, um encontro entre Tshisekedi e o presidente ruandês Paul Kagame, previsto para ocorrer em Luanda, foi cancelado devido à negativa de Kinshasa em negociar diretamente com o M23. Em fevereiro, o grupo rebelde reafirmou seu compromisso com um diálogo direto para resolver as causas do conflito e estabelecer uma paz duradoura.

A crise se intensificou ao longo de 2024 e a ofensiva do M23 já deixou mais de 7 mil mortos desde o início do ano, segundo Kinshasa. Paralelamente, a RDC colocou uma recompensa milionária pela captura dos líderes do grupo rebelde.

A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a Comunidade da África Oriental (EAC) pediram um cessar-fogo imediato e designaram o ex-presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, para intermediar um acordo, mas os esforços não obtiveram sucesso até o momento.

Além do envolvimento de Ruanda e da RDC, a crescente proximidade dos combates com o Burundi e o envio de tropas ugandesas para o leste congolês levantam temores de uma escalada regional do conflito.

Desafios e próximos passos

A adesão ao processo de negociação, ofertada por Angola, não garante um desfecho rápido para o conflito. O M23 já manifestou interesse no diálogo, mas reivindica maior autonomia para as regiões que controla, uma demanda que Kinshasa rejeita.


Além disso, a instabilidade política na RDC e as críticas internas à gestão de Tshisekedi complicam ainda mais o cenário. O ex-presidente Joseph Kabila, que governou o país entre 2001 e 2019, afirmou recentemente que a crise não se deve apenas ao avanço do M23, mas também a falhas de governança da administração atual.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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