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As muitas Francias do Brasil e da Colômbia

Eleição de Francia Marquez como vice-presidenta gerou esperança entre a comunidade negra do Brasil e reforçou a necessidade do país ter uma presidenta ou vice negra

Imagem: Pedro Borges

Foto: Imagem: Pedro Borges

21 de outubro de 2022

A vitória de Gustavo Petro e Francia Marquez, representantes do Pacto Histórico, foi um motivo de alegria para os setores progressistas e os movimentos sociais brasileiros. As conquistas de Alberto Fernandez e Boric também foram sinais positivos para esses segmentos da sociedade, que no Brasil, se empenham para a vitória de Lula sobre Bolsonaro. 

A expectativa é de que vitorioso, Lula terá afinidade política para construir uma grande parceria com Petro e Francia em temas como a proteção da Amazônia, agenda central para o mundo no século XXI. Por essa razão, já há motivos para sonhar e celebrar a conquista dos colombianos.

Mas o recado dado ultrapassa isso e ecoa de uma maneira particular no povo negro brasileiro. Francia Marquez, a primeira vice-presidenta afro-colombiana, serve de inspiração para o campo progressista fazer o mesmo no Brasil em 2026, quando o país terá novas eleições presidenciais.

Lula é um homem com 76 anos, e Geraldo Alckmin, o vice, tem 69 anos. As limitações da vida, não apenas da política, exigem renovação. A Colômbia aponta que a novidade pode ser etária, de gênero e racial, com uma mulher negra de 40 anos em um cargo estratégico. Fortalecer a democracia e utilizá-la como ferramenta para enfrentar as desigualdades  exige maior participação de todos os segmentos sociais, em especial os marginalizados. No Brasil, onde o racismo é o pano de fundo de todos os problemas do país, não há como avançar sem as pessoas negras.

As opções de Francias brasileiras são muitas, que poderiam construir pontes importantes com a Colômbia. Algumas delas, inclusive, se conectam com agendas fundamentais da vice-presidenta. 

Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, esteve em comitiva de organizações negras do Brasil com Francia Marquez em março, no evento de encerramento da campanha, como demonstração de apoio e solidariedade. As duas representam o discurso e a agenda política dos “ninguém”, aquelas pessoas excluídas de todos os processos, vítimas da desigualdade e da violência. Para além disso, Francia Marquez e Anielle Franco carregam o legado de um dos principais símbolos da luta de direitos de mulheres negras, Marielle Franco, vítima de um assassinato em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro.

Francia Marquez também participou das discussões do acordo de paz na Colômbia, em especial dos assuntos relacionados às comunidades negras. No Brasil, existem jovens mulheres negras que acompanham de perto a discussão sobre a letalidade da polícia, que assola a vida de jovens rapazes das periferias dos grandes centros urbanos. Paula Nunes, Simone Nascimento, Vilma Reis são referências nessa discussão e poderiam ser candidatas à presidência, ou mesmo se tornarem ministras. As trocas de experiências entre elas e Francia seriam fundamentais para a superação dos problemas de ambas nações.

Os nomes e exemplos de paralelos são muitos. Na Colômbia, certamente existem outras mulheres negras com trajetória e experiência política para ocupar lugares estratégicos na sociedade, pessoas que também podem inspirar os afro-brasileiros. Os fatos recentes reforçam a necessidade de se construir maior diálogo entre os afrodescendentes de Brasil e Colômbia.

A vitória de Francia Marquez também evidencia que a política colombiana influencia a América Latina e fortalece o debate racial no Brasil, que agora ganha um exemplo vitorioso próximo e concreto. Se fizeram na Colômbia, por que não é possível fazer no país com maior população negra da diáspora africana? 

O Brasil, que vendeu para o mundo a ideia de que se vive uma democracia racial, é visto de outra maneira, tanto no âmbito interno, quanto no externo. Não é mais possível fechar os olhos para os números de cerca de 60 mil homicídios por ano, com quase 80% de pessoas negras vítimas, a maioria jovens homens e pobres. O Brasil de Bolsonaro aprofunda esse cenário e adota o discurso do supremacismo branco, de ódio ao povo pobre, negro, e uma ação de violência contra as mulheres e pessoas LGBTQIA+.

A resposta para isso deve vir daquilo de mais democrático e popular que existe entre nós, a construção política do povo negro, em especial das mulheres. São essas pessoas, com uma perspectiva de mudança social, que podem mudar a realidade como vices, ou presidentas.

Francia Marquez e povo colombiano, obrigado.

*Este texto foi publicado originalmente, em espanhol, no El País.

Leia também: Da luta em defesa de um rio à vice-presidência da Colômbia: conheça a história de Francia Márquez

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