A cidade de El-Fasher, capital do estado de Darfur do Norte, no Sudão, enfrenta novo agravamento na crise humanitária após a destruição de um caminhão de água no interior do Hospital Saudita, uma das poucas unidades de saúde ainda em funcionamento na região.
O ataque, causado por disparo de artilharia, deixou cerca de mil pacientes gravemente doentes sem acesso à água potável, segundo informou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) nesta quarta-feira (14).
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A cidade, com cerca de dois milhões de habitantes, é a única entre as capitais dos cinco estados de Darfur que permanece fora do controle das Forças de Apoio Rápido (RSF), grupo paramilitar que mantém El-Fasher sob cerco desde maio de 2024.
Hospital atingido e apelo por respeito ao direito internacional
O caminhão destruído era parte de um esforço coordenado pela UNICEF para garantir fornecimento de água aos pacientes do Hospital Saudita. A organização declarou que a destruição comprometeu o acesso à água segura para aproximadamente mil pessoas em estado crítico.
A agência da ONU voltou a apelar a todas as partes do conflito que respeitem o direito internacional humanitário. “A UNICEF continua a exigir que todas as partes cumpram suas obrigações sob o direito humanitário internacional e cessem todos os ataques contra infraestruturas civis essenciais”, afirmou em nota.
Divisão territorial e colapso dos serviços de saúde
A guerra no Sudão, que entrou em seu terceiro ano, opõe as Forças Armadas, lideradas pelo general Abdel Fattah al-Burhan, ao grupo paramilitar RSF, comandado por Mohamed Hamdan Daglo. O conflito dividiu efetivamente o país: o Exército controla o norte, o leste e o centro; a RSF domina quase toda a região de Darfur e partes do sul.
Em comunicado emitido na quarta-feira, o Exército acusou a RSF de atacar áreas povoadas em El-Fasher. A destruição da infraestrutura hospitalar ocorre em meio a um cenário de colapso dos serviços de saúde. Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), entre 70% e 80% das instalações de saúde nas áreas afetadas pelo conflito estão fora de operação.
O conflito já causou a morte de dezenas de milhares de pessoas e deslocou 13 milhões, sendo 5,6 milhões somente na região de Darfur. A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica a situação no país como a pior crise humanitária do mundo atualmente.
As duas partes em confronto enfrentam acusações de crimes de guerra, incluindo ataques deliberados contra civis, bombardeios indiscriminados de áreas residenciais e bloqueio de ajuda humanitária.