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Brasil influencia luta antirracista na Colômbia, diz antropóloga colombiana

A professora Mara Viveros é uma das grandes referências do debate racial na Colômbia e uma das participantes do Ciclo Afro, evento que faz parte da programação da Feira do Livro de Bogotá (FILBo); a Alma Preta está no local e cobre o evento
A antropóloga e economista colombiana Mara Viveros, durante a Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de 2024

Foto: Pedro Borges/Alma Preta

23 de abril de 2024

A Colômbia, país multirracial, tem traços da sua história que lembram a discussão sobre racismo do Brasil. Durante o século XX, a Colômbia esteve sob forte influência da ideia de uma “nação mestiça”, que seria o resultado da união entre diferentes grupos étnicos.

Uma das defensoras desta ideia é a professora Mara Viveros, doutora em antropologia pela Escola dos Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris (EHSS) e economista pela Universidade Nacional da Colômbia. 

A intelectual participou da programação do Ciclo Afro, uma realização do Leitorado Guimarães Rosa, iniciativa sediada na Universidade Nacional da Colômbia, que compõem a Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo). Ela participou de um debate sobre as questões raciais e de gênero na América Latina com a professora Dyane Brito, e mediação da socióloga Munah Malek.

Mara Viveros, em entrevista à Alma Preta, contou sobre essa dimensão. “A história da mestiçagem é longa, mas podemos focar a discussão sobre o século XX, quando a Colômbia queria fazer parte das nações modernas, o que isso significava. O mundo hierarquizado pensa somente no branco como o civilizado e moderno”.

Diante disso, ela afirma que houve um processo de “mestiçagem” da sociedade colombiana para buscar o seu embranquecimento. “O branqueamento em termos físicos, com relações interraciais, mas sobretudo o embranquecimento no sentido ideológico e cultural”.

A antropóloga e economista colombiana Mara Viveros fala durante painel na Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de de 2024
A antropóloga e economista colombiana Mara Viveros fala durante painel na Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), na Colômbia, em 23 de abril de de 2024 (Pedro Borges/Alma Preta)

Durante o diálogo na FILBo, a professora Dyane Brito abordou o chamado Mito da Democracia Racial no Brasil e a importância da obra Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre para o fortalecimento desta noção. Dyane Brito fez todo um percurso para chegar ao momento atual do país, de maior fortalecimento da luta antirracista com a adoção de políticas afirmativas, como a Lei de Cotas e a chamada 10.639, que obriga o ensino da cultura africana e afro-brasileira.

As mudanças existentes no Brasil, de fortalecimento da identidade negra, influenciaram a Colômbia, na visão de Mara Viveros. Para ela, os dois países passaram a se referenciar no que diz respeito ao orgulho negro. 

“Por muito tempo, creio que os colombianos se alimentaram dos Estados Unidos para construção do orgulho afro, mas agora encontraram um referencial mais próximo, na sociedade brasileira. Pessoas negras olham para o Brasil e pensam na possibilidade de construir projetos comuns, assim como se referenciam pela estética, pelas roupas, músicas, cabelo”, diz.

Ao lado de Dyane Brito (centro), a antropóloga e economista colombiana Mara Viveros (esquerda) fala durante painel na Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), com mediação de Munah Malek (direita)  na Colômbia, em 23 de abril de 2024
Ao lado de Dyane Brito (centro), a antropóloga e economista colombiana Mara Viveros (esquerda) fala durante painel na Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), com mediação de Munah Malek (direita) na Colômbia, em 23 de abril de 2024 (Pedro Borges/Alma Preta)

A eleição da chapa Gustavo Petro e Francia Márquez também foi importante para as comunidades afro da Colômbia, algo que ecoou na sociedade brasileira. Ela olha como orgulho o impacto de Márquez na região, com a mobilização de muitas pessoas negras no Brasil, em especial mulheres, no entorno da figura da vice-presidenta colombiana.

Esses movimentos constroem um movimento de retroalimentação entre brasileiros e colombianos para avançar na luta contra o racismo.

“É uma troca linda. Por óbvio que Francia trouxe um sentimento de orgulho para os colombianos e para toda região. Ela propôs uma mudança na política, com um novo vocabulário político, com uma maior preocupação com os territórios, com uma política que se constrói das periferias para o centro”.

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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