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Conflito no leste da RDC provoca deslocamento de mais de 100 mil pessoas em 1 semana

Confrontos entre o Exército Congolês e o grupo M23 intensificam crise humanitária e cidade estratégica de Masisi é tomada por rebeldes; Médicos Sem Fronteiras (MSF) relatam dezenas de feridos em conflitos recentes
Pessoas deslocadas chegam à cidade de Lubero, enquanto soldados das Forças Armadas da República Democrática do Congo (RDC) tentam conter uma ofensiva dos rebeldes do M23, que tomaram várias cidades em dezembro.

Foto: Philémon Barbier/AFP

8 de janeiro de 2025

O Território de Masisi, na província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo (RDC), tornou-se palco de confrontos entre o grupo armado M23/AFC e o exército congolês, apoiado por forças aliadas, nos primeiros dias de 2025. Esses combates resultaram no deslocamento de mais de 102 mil pessoas em menos de uma semana, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

Entre 1º e 3 de janeiro, o grupo M23/AFC, com apoio do governo de Ruanda, assumiu o controle de Masisi, uma cidade-chave na região rica em minerais. Em nota, Ruanda alegou que as áreas conquistadas pelo M23 estavam sob domínio de milícias Hutus associadas ao genocídio de 1994. A declaração reforçou a complexidade das tensões étnicas e políticas que alimentam o conflito.

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A ofensiva culminou na tomada de controle da cidade de Masisi pelo M23 no último fim de semana, marcando um novo capítulo no conflito que, desde 2021, vem desestabilizando o leste do país. De acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), entre os dias 3 e 6 de janeiro, 75 feridos foram tratados no Hospital Geral de Referência de Masisi e no Centro de Saúde de Referência de Nyabiondo. 

“Além de fornecer esses cuidados, essas duas instalações de saúde também abrigaram centenas de civis por vários dias, que buscaram refúgio e proteção”, informou Stephane Goetghebuer, coordenador-geral de MSF em Kivu do Norte.

Além de Masisi, outras localidades, como Minova e Numbi, na província de Kivu do Sul, também foram palco de violência. As equipes de MSF nesses locais relataram a chegada de dezenas de feridos provenientes de confrontos nas terras montanhosas de Numbi, 84 delas estavam em tratamento.

Contexto geopolítico e humanitário

Os confrontos ocorrem em meio a tensões regionais envolvendo o apoio do governo de Ruanda ao M23, uma alegação frequentemente negada por Kigali, mas corroborada por investigações internacionais. O grupo rebelde, formado majoritariamente por tutsis congoleses, alega lutar contra a marginalização e perseguição de sua comunidade no país. 

Por outro lado, o governo ruandês afirma que as áreas capturadas pelo M23 eram controladas por milícias hutus ligadas ao genocídio de 1994 em Ruanda.

A tomada de Masisi, uma cidade estratégica localizada a cerca de 80 quilômetros ao norte de Goma, capital provincial de Kivu do Norte, agrava a crise humanitária em uma região que já abriga mais de 600 mil deslocados internos, segundo dados da ONU de novembro de 2024. Com a relativa calma retornando à cidade no dia 5 de janeiro, algumas famílias começaram a voltar, mas as condições permanecem precárias.

Organizações humanitárias alertam que o fluxo de deslocados pode sobrecarregar ainda mais os recursos já escassos na região. A MSF continua a fornecer assistência médica emergencial em Kivu do Norte e do Sul, enquanto negociações mediadas por Angola entre o presidente da RDC, Félix Tshisekedi, e o presidente de Ruanda, Paul Kagame, permanecem estagnadas desde dezembro.

Décadas de instabilidade

A crise atual é parte de uma longa história de instabilidade no leste da RDC, marcada por conflitos entre grupos armados locais e estrangeiros, herança das guerras regionais que assolaram a área nos anos 1990. 

A presença de minerais valiosos, como o coltan e o ouro, contribui para a persistência da violência, enquanto as populações locais enfrentam deslocamentos, insegurança alimentar e acesso limitado a serviços básicos.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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