Esta semana foi marcada por conflitos e disputas no Quênia após a comissão eleitoral declarar William Ruto como novo presidente do país. Na última segunda-feira (15), Ruto, que é o atual vice-presidente, obteve 50,49% dos votos, mas seu principal rival na disputa eleitoral, Raila Odinga, rejeitou os resultados.
O conflito e as alegações de fraude ocorreram após quatro dos sete comissários eleitorais, que foram nomeados no ano passado pelo atual presidente Uhuru Kenyatta, afirmarem que o presidente da comissão os excluiu das etapas finais antes de sua declaração, segundo informações do Africanews.
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O presidente do órgão eleitoral do Quênia, Wafula Chebukati, disse que Raila Odinga obteve 48,8% dos votos nas eleições. Desde terça-feira (16), Odinga, que teve sua candidatura apoiada pelo atual presidente, chamou os resultados de “nulos e sem efeito”, prometendo desafiá-los.
Segundo publicação na BBC, Odinga, que perdeu por uma margem apertada para William Ruto, segundo os resultados oficiais, acusou o chefe do órgão eleitoral de “desrespeito flagrante à Constituição”. “Rejeitamos totalmente sem reservas os resultados das eleições presidenciais”, disse ele.
Os partidários de Odinga saíram às ruas atirando pedras, incendiando pneus e construindo bloqueios nas estradas, após a declaração de Ruto como vencedor da disputa presidencial, também informou o Africanews.
“O que aconteceu esta noite é uma situação infeliz, acho que uma tentativa de nossos concorrentes de reverter o que conquistamos como país”, declarou o atual vice-presidente do Quênia.
O vencedor da corrida eleitoral também elogiou a atual eleição que, para muitos quenianos, foi conduzida em um processo transparente e em grande parte pacífica, contrária a eleições que, no passado, tiveram resultados mortais e divisões étnicas. Ruto prometeu um “governo transparente, aberto e democrático” em seu discurso.
Na última terça-feira (16), o Grupo de Observação Eleitoral, composto por organizações da sociedade civil, anunciou que sua contagem de votação paralela “corrobora os resultados oficiais”. Entretanto, Odinga afirmou que apenas o presidente da comissão eleitoral poderia ver os resultados finais antes da declaração.
Odinga disse que sua campanha buscará “todas as opções constitucionais e legais” para contestar os resultados das eleições. Ele tem sete dias, a partir da última segunda-feira, para apresentar à Suprema Corte uma petição. O órgão terá, então, 14 dias para se pronunciar sobre o assunto.
Quem são William Ruto e Raila Odinga?
William Ruto tem 55 anos e é o atual vice-presidente do Quênia. Empresário e rico, Ruto trouxe para a campanha a sua história como uma pessoa que, durante a infância, foi vendedor de frango.
De acordo com informações da Africanews, Ruto disse aos eleitores que a eleição era uma disputa entre pessoas de origem modesta e as “dinastias” de Kenyatta e Odinga, cujos pais foram o primeiro presidente e vice-presidente do Quênia. Uma mensagem considerada popular entre quenianos que lutam contra o aumento dos preços, poucas oportunidades de emprego e a corrupção generalizada.
Apesar de vice-presidente, Ruto não foi o candidato apoiado pelo atual governante Uhuru Kenyatta. Segundo publicação da BBC, durante a campanha, Kenyatta classificou Ruto de “não confiável” para altos cargos e fez campanha para que Odinga o sucedesse. O presidente e o vice são homens poderosos da política queniana, mas tiveram o relacionamento marcado por tensões desde que Kenyatta se reconciliou com Odinga em 2018.
Raila Odinga tem 77 anos e é quinta vez que tenta a vitória na corrida presidencial, sendo que não teve êxito em nenhuma delas, segundo informações da BBC. Em 2017, ele contestou a vitória do atual presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta. Na ocasião, novas eleições foram realizadas em meio a apontamentos de irregularidades e confrontos que mataram pelo menos quatro pessoas.
Em 2007, mais de 1.000 pessoas foram mortas depois que Odinga também alegou que a eleição foi fraudada. William Ruto, então aliado de Odinga, foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade por seu papel na violência, mas o caso foi encerrado em meio a alegações de intimidação de testemunhas.
Odinga é conhecido pelos anos de detenção durante a luta pela democracia multipartidária décadas atrás e por ter apoiado a constituição queniana de 2010. Para muitos quenianos deste ano, o candidato apareceu como parte do sistema político atual.
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