Um grupo de militares do Exército do Gabão anunciou em rede nacional, nesta quarta-feira (30), o “fim do atual regime” e a prisão domiciliar do presidente gabonês, Ali Bongo Ondimba, que conquistou o terceiro mandato em eleições realizadas na última semana. A tomada de poder foi transmitida no canal local Gabão 24.
De acordo com o comunicado veiculado pelos militares gaboneses, todas as instituições estatais — Assembleia Nacional e Senado — foram dissolvidas e as fronteiras foram fechadas.
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O país mais rico em petróleo da África Central era governado há mais de 55 anos pela família Bongo. O presidente deposto Ali Bongo, sucessor do pai, Omar Bongo — que governou o país por 42 anos, de 1967 a 2009 — foi visto pela última vez no sábado (26), quando foi votar. A família do político, seus médicos e funcionários do alto escalão do governo deposto também foram detidos.
Em comunicado, a União Africana (UA) — principal órgão multilateral do continente africano — condenou o que classificou de “tentativa de golpe de Estado” e “flagrante violação dos instrumentos políticos e legais” do bloco.
“O presidente da Comissão [da União Africana, Moussa Faki Mahamat] encoraja todos os atores políticos, civis e militares do Gabão a dar prioridade às vias políticas e um rápido retorno à ordem democrática e constitucional no país”, diz o documento.
Banhado pelo oceano Atlântico, o Gabão é um dos menores países da África Central, com cerca de 2,4 milhões de habitantes. A nação tem fronteiras com Camarões, Congo e Guiné Equatorial. Conforme dados do Banco Mundial, o Gabão tem 4º maior economia da região em termos de Produto Interno Bruto (PIB).
Golpes recentes nos países do continente africano
Desde agosto de 2020, a África foi testemunha de pelo menos oito golpes de Estado, acompanhado de conflitos e tensões pelo continente. O golpe mais recente foi o desta quarta-feira (30), no Gabão.
Níger
Em 26 de julho de 2023, os militares anunciaram que derrubaram o presidente Mohamed Bazoum. O general Abdourahamane Tiani reivindicou a liderança do país.
A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) anunciou, em 10 de agosto, a intenção de enviar uma força regional para “restabelecer a ordem constitucional”, enquanto continua privilegiando a via diplomática. Os militares do Níger propõem um período de transição de “três anos” até devolver o poder aos civis.
Burkina Faso: dois golpes em 8 meses
Em 24 de janeiro de 2022, o presidente Roch Marc Christian Kaboré foi expulso do poder pelos militares. O tenente-coronel Paul Henri Sandaogo Damiba se tornou presidente em fevereiro do mesmo ano.
Pouco tempo depois, em 30 de setembro, Damiba foi destituído pelos militares e o capitão Ibrahim Traoré foi nomeado presidente de transição até as eleições presidenciais, previstas para julho de 2024.
Sudão
Em 25 de outubro de 2021, os militares liderados pelo general Abdel Fatah al Burhan expulsaram os líderes civis de transição, que supostamente lideravam o país para a democracia depois de 30 anos de ditadura de Omar al Bashir, destituído em 2019.
Desde 15 de abril de 2023, uma guerra provocada por uma disputa de poder entre o general Burhan e seu ex-número dois Mohamed Hamdan Daglo causou ao menos 5.000 mortes no país.
Guiné
Em 5 de setembro de 2021, o presidente Alpha Condé foi deposto por um golpe militar. Em 1º de outubro, o coronel Mamady Doumbouya tornou-se presidente. Os militares prometeram devolver o poder aos civis eleitos até o final de 2024.
Mali: dois golpes de Estado em 9 meses
Em 18 de agosto de 2020, o presidente Ibrahim Boubacar Keita foi deposto por militares e em outubro se formou um governo de transição. Mas, em 24 de maio de 2021, os militares prenderam o presidente e o primeiro-ministro Moctar Ouane.
Em junho, o coronel Assimi Goita tomou posse como presidente de transição.
A junta militar se comprometeu a devolver o poder aos civis depois das eleições, previstas para fevereiro de 2024.