Neste sábado (8), uma cúpula de líderes africanos realizada em Dar es Salaam, na Tanzânia, reuniu o presidente de Ruanda, Paul Kagame, e o presidente congolês, Felix Tshisekedi — que participou por chamada de vídeo — para um diálogo em torno da crescente crise na República Democrática do Congo (RDC)
Além de Kagame e Tshisekedi, participaram do encontro líderes da Comunidade da África Oriental (CAO) e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (CDAA).
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Na declaração final, a cúpula pediu um “cessar-fogo imediato e incondicional” na RDC, solicitando aos chefes de ambos os exércitos envolvidos no conflito armado que se encontrem em cinco dias para discutir orientações técnicas sobre a trégua. A cúpula também solicitou a abertura de corredores humanitários e a resolução pacífica do conflito seguindo o processo de Luanda/Nairóbi — Angola e Quênia são mediadores do diálogo entre as partes.
Nos últimos dias, o grupo armado M23, supostamente apoiado por Ruanda, avançou rapidamente da porção oriental do território da RDC, tomando a cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte. O grupo agora avança para a vizinha Kivu do Sul.
Desde a tomada de Goma pelo M23, em 26 de janeiro, cerca de 3.000 pessoas foram mortas em confrontos, segundo estimativa do chefe de direitos da ONU, Volker Turk. O número é provavelmente maior. A região é rica em minérios como cobalto e coltan, fundamentais na fabricação de eletrônicos.
![Um membro do grupo armado M23 monitora o acesso à fronteira com Ruanda com pessoas ao fundo, Goma, República Democrática do Congo](https://i0.wp.com/almapreta.com.br/images/2025/01/EDIT.jpg?resize=800%2C600&ssl=1)
Temor de conflito regional
Essa não é a primeira vez que negociações de paz tentam arrefecer o conflito na RDC. Desde o ressurgimento do M23, em 2021, várias tentativas de cessar-fogo fracassaram, apesar da mediação de Angola e Quênia.
Ruanda nega apoiar militarmente o M23. Apesar disso, a ONU aponta que cerca de 4.000 soldados do país estão na RDC. Além disso, Ruanda estaria lucrando com o contrabando de minerais retirados do país. Kigali, por sua vez, acusa a RDC de abrigar o FDLR, grupo armado de hutus étnicos, grupo responsável pelo genocídio de tutsis em Ruanda, em 1994.
A mais recente ofensiva do M23 tem aumentado as tensões na região e os temores de uma escalada no conflito em direção a uma guerra regional. Diversos países da região têm oferecido apoio militar à RDC, incluindo África do Sul, Burundi e Malawi.
![Pacientes com ferimentos graves são tratados em unidades de tratamento intensivo em hospital de Goma, em meio à guerra na República Democrática do Congo, 20 de janeiro de 2025](https://i0.wp.com/almapreta.com.br/images/2025/01/RDC.jpg?resize=800%2C600&ssl=1)
Conflito duradouro
Apesar da escalada recente, o conflito na região já dura cerca de 30 anos e estima-se que já vitimou dez milhões de pessoas. A RDC é o segundo maior país africano em extensão territorial e tem cerca de 102 milhões de habitantes.
O país tem fronteiras ao sul com Angola e Zâmbia, ao norte com Sudão do Sul e República Centro-Africana, ao oeste com o Congo e ao leste com Uganda, Ruanda, Burundi e Tanzânia.
A RDC foi vítima de uma das mais brutais experiências do colonialismo sob o julgo da Bélgica, que massacrou milhões de pessoas no país. A independência veio somente em 1960, liderada por Patrice Lumumba. O líder foi assassinado um ano depois. Desde então, a RDC vive ciclos de instabilidade política e conflitos que se pioraram nas últimas três décadas.