O governo da Angola tirou do ar o sinal da Record TV no país em razão de o veículo exercer atividade jornalística sem credenciamento Centro de Imprensa Aníbal de Melo, que fiscaliza o cumprimento das leis entre instituições públicas e privadas. A medida também tirou do ar dois outros canais, Zap Viva e Vida TV.
O anúncio foi feito pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS) na última semana.
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Entre as inconformidades apontadas pelo ministério, estava a presença de estrangeiros no quadro de colaboradores da emissora. Fora do ar desde o dia 21 de abril, a Record TV África se manifestou através das redes sociais pela volta do sinal de transmissão do canal. Em nota publicada no Facebook, a empresa anunciou a saída do brasileiro Fernando Henrique Teixeira do cargo de direção. “A Record orgulha-se de admitir, formar e lançar no mercado jovens profissionais angolanos, reconhecidas no mercado nacional e internacional”, afirma.
Depois das acusações, a Record TV, que é vinculada à Igreja Universal do Reino de Deus, do empresário Edir Macedo, se posicionou fortemente contra o governo angolano. A emissora acusa o governo de xenofobia contra os religiosos brasileiros. O Sindicato de Jornalistas da Angola também se posicionou contra a decisão, chamada de “tentativa de silenciaento” pelo presidente da entidade, Teixeira Cândido, que avalia o governo como incompetente na declaração da suspensão.
Sem autorização para transmitir programas de rádio ou programas pela internet, a Record TV continua fora do ar na Angola, mesmo depois de comunicar alteração do quadro de funcionários. A comunicação é mantida com o público através da página da emissora no Facebook e do LinkedIn.
Denúncias envolvendo pastores da Igreja Universal
Um grupo de bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus na Angola assumiu em 2020 o controle de 35 templos da instituição em Luanda e cerca de 50 em outras províncias do país, como Lunda-Norte, Huambo, Benguela, Malanje e Cafunfo. Os bispos e pastores angolanos acusam a direção brasileira da igreja de evasão de divisas, expatriação ilícita de capital, racismo, discriminação, abuso de autoridade, imposição da prática de vasectomia aos pastores e intromissão na vida conjugal dos religiosos.
Aliado a nomes importantes dentro da Igreja Universal, como o bispo licenciado Marcos Pereira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entrou em contato com o Serviço de Investigação Criminal da Angola após o anúncio do início de uma ação de busca e apreensão contra pastores em todo o país angolano. O pedido foi feito através de uma carta enviada pelo governo brasileiro ao então presidente João Manuel Lourenço.
Leia também:
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Na época, a carta foi publicada no Twitter do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O parlamentar disse através da rede social que as “agressões contra pastores angolanos e brasileiros da Igreja Universal” geram preocupação e relembrou que confia nas leis aplicadas no país africano e no respeito à liberdade religiosa. A igreja universal possui cerca de 500 pastores em Angola, sendo 65 brasileiros.
Procurada pela Alma Preta Jornalismo, a Record TV África não se manifestou sobre a decisão da Angola até a publicação deste texto. O Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social também não retornou ao contato da reportagem.