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Muhammadu Buhari, o ex-militar que quer ser reeleito presidente da Nigéria

13 de abril de 2018

Muhhamadu Buhari já liderou um golpe militar na Nigéria e governou o país tanto na ditadura quanto no ainda recente período democrático. Amado pelos pobres, seu compromisso com a democracia ainda é uma dúvida. Enquanto combate o terrorismo, seus aliados são acusados de corrupção e a economia desacelera

Texto / Da Redação
Imagens / Reprodução

Esta semana o atual presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, anunciou que pretende concorrer a mais um termo como presidente.

Até então, uma possível reeleição do presidente não passava de rumores ancorados em poucos fatos, como o apontamento de alguns possíveis líderes de campanha.

Mas agora, Buhari assumiu oficialmente o compromisso de tentar se reeleger.

Ele teria afirmado que sua próxima campanha é uma resposta ao “clamor dos nigerianos para sua reeleição em 2019”.

Muhammadu Buhari foi eleito em 2015 pela frente progressista All Progressive Congress (APC), tendo sido derrotado nas três eleições anteriores. Foi a primeira vez que um candidato de oposição conseguiu vencer a situação. Uma derrota importante sobre o Partido Popular Democrático, o People’s Democratic Party (PDP), que governava o país desde o final da ditadura militar, em 1999. A Ditadura Militar estava instaura, praticamente, desde 1970.

Buhari se apoiou em sua popularidade entre os mais pobres da região norte do país. Outro fator de sua popularidade ao ser eleito teria sido seu passado como oficial e governante dos Exército. Buhari governou o país entre 1984 e 1985, após um golpe militar. Em um momento de conflito com o Chade, o governante ganhou popularidade, apesar do abuso contra direitos humanos.

O então secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, se encontra com o presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari em março de 2018. (FOTO: US State Department)

Seu governo iniciado em 1983 ficou marcado por colocar um fim à tentava do país de retornar ao voto popular. Buhari liderou um novo golpe militar retiranto o governo democraticamente eleito de Shehu Shagari, alegando que o governo democrático era corrupto.

Esse histórico faz com que muitos duvidem de seu compromisso com a democracia. Em 2005, ele chegou a afirmar, defendendo seu período como líder da ditadura militar, que a estabilidade democrática “dependia das pessoas. Se elas escolherem a liderança correta, não será necessário nenhum novo regime militar”.

Há, no entanto, setores da sociedade que o apoiam, por ter supostamente combatido a corrupção a todo custo no país.

As avaliações diversas sobre o período à frente do governo militar impulsionaram uma mensagem de pulso firme para enfrentar a corrupção e o terrorismo de grupos islâmicos no país.

Sendo o proprio Buhari um muçulmano da região norte, o político tem apelo entre os que ali vivem. A região é a que mais sofre com a ameaça do Boko Haram. A Nigéria é historicamente dividida entre uma região norte islâmica e a região sul, cristã. 

Jornais e analistas apontam, no entanto, que o mandato de Buhari foi, na verdade, desanimador. Por isso mesmo, a ideia de que ele estaria atendendo a um apelo popular estaria sendo vista com bastante desconfiança.

A Economia da Nigéria, a maior da África, desacelerou seu crescimento, e a ameaça constante à segurança doméstica oferecida pelo Boko Haram, também pesa sobre a popularidade de seu governo. 

Desde 2015 na presidência, para tentar novamente o cargo de chefe do executivo, Buhari deve manter seu foco no combate à corrupção, o mesmo discurso que o elegeu anteriormente. Os países africanos sofrem com um estereótipo em torno desse problema, e costumam ser lembrados por governos corruptos e ineficazes.

Muhammadu Buhari liderou um golpe militar na Nigéria em 1983. (FOTO: Premium Times)

No entanto, a estratégia de Buhari pode não funcionar como antes. Afinal, muitos dos funcionários do alto escalão do governo estão envolvidos em escândalos de corrupção, o que pode enfraquecer essa mensagem de combate aos desvios. Grupos de oposição também têm dito que as críticas à corrupção mantêm um perfil de acusação unilateral. Eles lembram que apesar dos escândalos apontados no governo anterior, nenhum acusado foi condenado.

Por outro lado, novamente, os nigerianos da região nordeste expressam gratidão especial com o governo devido à pressão exercida sobre o Boko Haram. Parte da região chegou a ser controlada pelo grupo, na formação de um território do que se pretendia um califado ao estilo do Estado Islâmico, mas no coração da África.

Além disso, instituições financeiras têm olhado o país com bons olhos devido a reformas aplicadas pelo governo de Buhari. Ele teria com isso ganhado a confiança, por exemplo, do Banco Mundial, que melhorou sua avaliação sobre país. Em uma lista de 190 países feita pela instituição para avaliar investimentos, o a Nigéria saltou 24 posições de 2016 a 2017, e alcançou 145ª posição.

Como nem tudo são flores, diferente da eleição de 2015, Buhari está diante de um novo cenário. Dessa vez, a opinião pública não está mais ao seu lado, segundo informa a Quartz Africa.

Em janeiro deste ano, o ex-presidente do país, outro ex-militar que também governou o país durante a ditadura, Olusegun Obasanjo, um dos grandes apoiadores de Buhari durante sua última eleição, publicou uma carta aberta criticando duramente o governo e pedindo com todas as letras que ele não tentasse a reeleição.

Buhari, que passou mais de 150 dias de seu atual governo se tratando de uma doença em Londres, o que também foi fonte de críticas, tem diante de si um desafio novo de recuperar a confiança em seu discurso e conseguir se manter à frente do país.

A Nigéria tem um papel fundamental na política africana, é não só a maior economia como também tem a maior população do continente – é o país com a maior população negra do mundo.

Seu papel no continente tem crescido, e compete cada vez mais com o certo protagonismo da África do Sul, país africano com maior proeminência internacional. Desafios para Buhari ou para o sucessor, a pobreza e a infraestrutura seguem sendo questões fundamentais para que esse papel seja alcançado. 

Em uma era de integração continental puxada pela União Africana  para o “renascimento africano”, com desenvolvimento tecnológico e social, a Nigéria tem a chance de desempenhar uma quase liderança natural, de um país que ainda se acostuma com a democracia, mas que mantém um potencial extraordinário.

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