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Francia Márquez: a ativista que pode se tornar a primeira vice-presidente negra da Colômbia

Marquez é ativista ambiental e símbolo da luta antirracista; ela vem de uma região de maioria negra e traz uma proposta decolonial de governo na Colômbia

 

Francia Marquez com o braço erguido discursa sobre as eleições na Colômbia

Foto: Imagem: Redes sociais

11 de março de 2022

Aos 39 anos, a ativista Francia Márquez será vice-presidente, na chapa com o presidencial Gustavo Petro, na disputa para as eleições gerais da Colômbia, em maio de 2022.  É a primeira vez que uma mulher negra participa da corrida eleitoral com um discurso de combate às desigualdades sociais e ao racismo. A chapa progressista faz parte da coligação Pacto Histórico, lançada no dia 23 de março.

Francia Márquez tem feito uma campanha com os temas de negritude, combate à pobreza e defesa do meio-ambiente. Antes da formação da chapa, ela havia se colocado como pré-canditada à presidência.

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No domingo dia 13 de março, na votação popular das prévias para definir os candidatos à presidência, o nome de Francia recebeu 768 mil votos, cerca de 14% das intenções da coligação de quatro partidos progressistas.

“A tensão racial nunca tinha sido tema da agenda pública colombiana. Francia é uma grande representante das mulheres negras colombianas, ela é uma liderança nos movimentos sociais há muitos anos. Na região onde ela mora, são grandes os interesses das empresas extrativistas. Ela se opôs à exploração e se tornou uma liderança dos direitos sociais e coletivos”, disse Alexandra Fernández, coordenadora da Fundação Foro Suroccidente, uma organização não-governamental colombiana de estudos e projetos para o fortalecimento da democracia.

As mulheres negras colombianas têm forte participação nos movimentos sociais e de luta por direitos nos territórios, no entanto, elas têm ainda pouco espaço nas posições de tomada de poder.

“Elas lideram os processos de organização e luta, mas existem muitas normas sociais de gênero que afetam a sua autoestima e a sua participação na política. Há muita violência de gênero contra as mulheres. Francia é a primeira que faz este salto importante para a luta das mulheres negras”, ressaltou a Alexandra.

francia marquez vice e petro

Francia Marquéz e Gustavo Petro anunciam chapa com 38% das intenções de votos na Colômbia (Imagem: Divulgação)

A candidatura de Francia mexeu com a tradição política colombiana, sempre marcada pela presença de homens. Ela vem da cidade de Suaréz, no Estado de Cauca. 

A ativista dos Direitos Humanos atua na região de Cali, um território de maioria negra e teve participação na greve geral do ano passado. Francia liderou as denúncias contra a mineração ilegal de ouro. O tema da campanha dela é a luta dos Nadies, “os ninguém”, aqueles que não são vistos e nem ouvidos.

“Ela não tinha sido convidada para o debate eleitoral inicialmente, mas depois houve uma pressão popular e ela participou. O nome de Francia tem grande apelo entre os eleitores racializados, os eleitores brancos progressistas e entre as classes populares. O voto em Francia é um voto de opinião, daqueles que defendem os direitos sociais e da população mais pobre”, disse Alexandra que é formada em Estudos Políticos.

O professor brasileiro Sandrio Cândido, que vive na Colômbia, afirma que a candidatura de Francia Marquez tem uma relevância importante no contexto latinoamericano.

“Ela representa a luta antirracista e do movimento feminista negro. Aqui na Colômbia a presença negra foi mais forte nas zonas rurais, mas não tinha tido espaço na política. Ela representa vários sonhos. Ela é a voz de vários projetos que se conectam com demandas e necessidades de autonomia de outros países da região”, disse o professor.

A colombiana Maryuri Mora Grisales, que está acompanhando os desdobramentos da pré-campanha eleitoral na Colômbia, destaca que, no último ano, a campanha de pré-candidatura de Francia Marquez levantou um debate relevante sobre a negritude e a desigualdade no país.

“Por exemplo, no censo de 2018, feito pelo governo, foi grande a diminuição de pessoas que se autodenominam negras, porém, quando se cruza os dados das pessoas em vulnerabilidade atingidas por questões de renda, saúde e acesso à moradia, percebe-se que a população negra é maior do que os dados oficiais divulgados pelo governo. Quando o censo oficial não tem dados reais sobre a população negra, isso dificulta muito a criação de políticas públicas”, disse Maryuri, que é defensora dos Direitos Humanos e atua em causas sobre feminismo e religião.

Na pesquisa eleitoral dvulgada no dia 3 de março, a coligação Pacto Histórico teve 38% das intenções de votos, a coligação Equipe por la Colombia teve 19,1% e a coalização Centro Esperança teve 14,5%. Os indecisos representam 28,4% dos consultados. 

 

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