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Governo do Congo pede para ex-presidente Kabila deixar a política após acusação de traição

Aliados do atual presidente Félix Tshisekedi pressionam Joseph Kabila a se retirar da vida pública após perda de imunidade e ligações com milícia armada
Jean-Michel Sama Lukonde (no centro), presidente do Senado da República Democrática do Congo (RDC), discursa durante sessão plenária dedicada à votação sobre o levantamento das imunidades do ex-presidente da RDC Joseph Kabila em Kinshasa, em 22 de maio de 2025.

Jean-Michel Sama Lukonde (no centro), presidente do Senado da República Democrática do Congo (RDC), discursa durante sessão plenária dedicada à votação sobre o levantamento das imunidades do ex-presidente da RDC Joseph Kabila em Kinshasa, em 22 de maio de 2025.

— Glody Murhabazi/AFP

26 de maio de 2025

O principal partido do governo da República Democrática do Congo (RDC) pediu neste domingo (25) que o ex-presidente Joseph Kabila abandone a vida política. A declaração ocorreu dias após o Senado do país revogar a imunidade parlamentar do ex-presidente, abrindo caminho para que ele seja julgado sob acusação de traição.

Kabila governou a RDC entre 2001 e 2019 e, desde que deixou o cargo, manteve o título de senador vitalício, o que lhe garantia imunidade judicial. O atual governo, liderado por Félix Tshisekedi, acusa Kabila de manter vínculos com o M23, grupo armado que atua no leste do país e que, segundo Kinshasa, recebe apoio de Ruanda.

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Partido governista intensifica acusações

Durante evento em Kinshasa, capital do país, o secretário-geral do partido União para a Democracia e Progresso Social (UDPS), Augustin Kabuya, declarou que Kabila “deve deixar os congoleses em paz” e o acusou de ser “súdito ruandês”, colocando em dúvida sua nacionalidade congolesa. Segundo ele, o ex-presidente teria responsabilidade direta pelas ações do M23, que ocupa territórios na região de fronteira com Ruanda.

“O poder nos foi imposto por ele. Agora, ele deve permitir que os congoleses cuidem de seus próprios assuntos”, afirmou Kabuya à imprensa, segundo a Agence France-Presse.

Imunidade revogada e denúncia de traição

Na quinta-feira (23), o Senado da RDC aprovou a retirada da imunidade de Joseph Kabila, atendendo a um pedido da Promotoria Militar. O Ministério da Justiça encaminhou o caso à Justiça militar, com base em supostas ligações de Kabila com o M23, que retomou ofensivas armadas no leste do país nos últimos anos.

A perda da imunidade permite que ele seja formalmente acusado por traição, um crime grave que pode envolver punições severas no país. Juristas questionaram a legalidade do processo, mas a medida foi aprovada com maioria no Senado, que é controlado por aliados do presidente Tshisekedi.

Na sexta-feira (24), Kabila quebrou o silêncio que mantinha desde que deixou o poder. Em pronunciamento transmitido pela televisão, criticou o processo de cassação de sua imunidade e anunciou que pretende visitar Goma, cidade localizada na região afetada pelos confrontos com o M23.

“O que está acontecendo contra mim é uma perseguição com motivações políticas”, afirmou o ex-presidente. Ele também disse que sua presença em Goma tem como objetivo se reconectar com a população local.

Kabuya reagiu duramente à fala de Kabila, lembrando episódios de repressão a protestos durante seu governo e dizendo que ele “não tem nada a ensinar sobre democracia”.

Conflito no leste do Congo agrava tensão política

O embate entre Kabila e Tshisekedi ocorre em meio ao agravamento da crise humanitária e militar no leste da RDC. O M23, acusado de crimes contra civis e de controle ilegal de territórios, tem sido o principal foco de instabilidade na região.

O governo congolês busca apoio internacional para conter o avanço do grupo e reforçar a segurança nacional. Em paralelo, negocia com os Estados Unidos o acesso a suas reservas de minerais estratégicos em troca de apoio político na disputa com Ruanda.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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