O grupo rebelde M23, acusado de ter o apoio de Ruanda, avança para Bukavu, a capital do Kivu do Sul da República Democrática do Congo, desde a noite de ontem, 29 de janeiro.
A cidade fica na parte sul do Lago Kivu, importante área da região leste do país, na divisa com Ruanda. Estima-se uma população de mais de 700 mil pessoas na cidade.
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Prosper Dinganga, membro da Diáspora Congolesa no Brasil, conta que a cidade não tem a mesma estrutura militar de Goma e a tomada da região pelo grupo rebelde pode significar uma grande derrota para o país.
“Se Goma cair, Bukavu cai, assim como uma boa parte do leste do país. O M23 é um escudo, outros interesses estão por trás, como a conquista dos minérios congoleses”.
A região leste do país é rica em diversos minerais, entre eles o coltan, fundamental para a produção de baterias elétricas e aparelhos celulares.
“A gente tem que se mobilizar muito, porque se toda a região for tomada, é o caminho para a balcanização do país”, completa Dinganga.
Situação em Bukavu
Amanda Morais, coordenadora da ONG Orfanato Sem Fronteiras, planejava retornar para o país africano no dia 29 de janeiro.
Por conta da situação em Goma, ela postergou a viagem para um momento de maior estabilidade do país.
Apesar disso, o orfanato, que atende cerca de 370 crianças, se prepara para um momento de maior escassez. Eles estão comprando mantimentos para se resguardar pelos próximos dois meses com as crianças.
A expectativa é baixa de que haja uma melhora da situação.
“Os rebeldes estão avançando com muita rapidez. A nossa vontade é que haja paz naquele local. Mas sendo racional, com o governo inconsequente que temos lá, dificilmente essa situação vai melhorar”, afirma.
A Guerra
O conflito em curso na República Democrática do Congo se agravou nos últimos dias com avanços de combatentes do grupo armado M23, supostamente apoiado por Ruanda.
Após a tomada do aeroporto da cidade de Goma, confrontos com as Forças Armadas congolesas e tropas de missão da Organização das Nações Unidas (ONU) deixaram centenas de mortos e feridos. Os avanços do M23 se concentram em uma região rica em minérios como o cobalto.
Em nota, na terça-feira (28), o Itamaraty condenou os ataques sofridos pela Missão da ONU para Estabilização da República Democrática do Congo (MONUSCO) e a missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral na RDC (SAMIRDC, na sigla em inglês). A MONUSCO foi estabelecida no país em 2010.
Na mesma data, em meio ao aumento das tensões internas, manifestantes em Kinshasa, capital congolesa, atacaram as sedes diplomáticas de Estados Unidos, França, Uganda, Quênia e Ruanda.
Em nota, o Exército brasileiro afirma que combates violentos estão acontecendo na região de Goma, resultando em uma crise humanitária e deslocamento de milhares de civis. Ao redor de Goma, posições defensivas foram adotadas com tropas congolesas e africanas na linha de frente e forças da ONU em uma segunda linha defensiva.
Conflito já vitimou milhões de pessoas
O conflito na RDC, o segundo maior país africano em extensão territorial e lar de cerca de 102 milhões de pessoas, ocorre há cerca de 30 anos e já deixou aproximadamente dez milhões de vítimas.
Os confrontos estão focados na parte oriental do país, onde fica a cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte.
Apesar do protagonismo do grupo armado M23, o principal pivô dos conflitos atualmente, estima-se que dezenas de grupos semelhantes existam no país.
O Congo sofreu umas das mais brutais experiências do colonialismo, com o massacre de milhões de pessoas sob o domínio da Bélgica.
A independência veio somente em 1960, sob a liderança de Patrice Lumumba, assassinado um ano depois. Desde então o país vive ciclos de instabilidade e conflitos que se agravaram nas últimas três décadas.