Centenas de manifestantes se reuniram em Nairóbi, capital do Quênia, nesta quinta-feira (27), enquanto a polícia disparava balas de borracha e gás lacrimogêneo contra protestantes que pedem pelo impeachment do presidente queniano William Ruto.
Os atos foram desencadeados pela Lei das Finanças de 2024, que aumenta os tributos do país, que ainda se recupera financeiramente dos impactos da pandemia de Covid-19, pela guerra na Ucrânia, por dois anos consecutivos de secas e pela desvalorização da moeda.
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Os protestos, liderados em grande parte por jovens quenianos da geração Z, começaram na semana passada, enquanto o governo de Ruto oscilava entre adotar uma linha dura contra as manifestações e convocar o diálogo. Após cenas transmitidas ao vivo pela imprensa na terça-feira (25) mostrarem o parlamento ser saqueado e a polícia abrindo fogo contra os manifestantes, Ruto recuou e deixou de assinar o projeto de lei impopular, convocando um diálogo com os jovens quenianos.
Cephas, um estudante de 24 anos, disse à Agence France-Presse (AFP) que a decisão de Ruto de cancelar os aumentos de impostos chegou tarde demais. “Não se trata do projeto de lei, é ele. Queremos que ele saia do cargo.” Quenianos disseram que continuariam a se manifestar em memória dos mortos nos protestos de terça-feira (25).
A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia contabilizou 22 mortos em todo o país, 19 somente em Nairóbi, além de 300 feridos após os protestos de terça-feira, prometendo uma investigação.
O estudante acrescentou que muitos manifestantes optaram por não comparecer na quinta-feira “porque temem por suas vidas”. Várias mulheres que participaram de protestos anteriores disseram que decidiram ficar de fora. “Está assustador lá fora“, disse uma manifestante de 26 anos à AFP, sob condição de anonimato, explicando sua decisão de ficar em casa.
Os confrontos alarmaram a comunidade internacional. Os EUA pediram ao Quênia para respeitar o direito ao protesto pacífico e a ONU pediu por “responsabilidade”. Organizações de direitos humanos acusaram as autoridades de sequestrar manifestantes.
Ruto reverteu algumas das medidas fiscais na semana passada, como a eliminação dos novos impostos propostos sobre o pão, o óleo de cozinha, a propriedade de automóveis e as transações financeiras, levando o Tesouro a alertar sobre um déficit orçamentário de 200 bilhões de xelins (US$ 1,6 bilhão). Ruto disse na quarta-feira (26) que retirar o projeto de lei significaria um buraco considerável no financiamento de programas de desenvolvimento para ajudar agricultores e professores.
O governo endividado havia dito anteriormente que os aumentos eram necessários para pagar a dívida do Quênia de cerca de 10 trilhões de xelins (US$ 78 bilhões), equivalente a aproximadamente 70% do Produto Interno Bruto (PIB). A administração de Ruto enfrenta pressão do Fundo Monetário Internacional, que pediu reformas fiscais para acessar o financiamento crucial.