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Movimento de congoleses pede posicionamento de Lula sobre a guerra no país africano

Mais de 6 milhões de pessoas foram mortas desde o início das guerras que recaem sobre a República Democrática do Congo; encontro em Brasília reuniu embaixador do país africano e movimentos negros do Brasil
Prosper Dinganga, coordenador do A Voz do Congo, movimento de imigrantes congoleses no Brasil.

Prosper Dinganga, coordenador do A Voz do Congo, movimento de imigrantes congoleses no Brasil.

— Ana Flávia Barbosa

30 de abril de 2025

A Voz do Congo, movimento de imigrantes congoleses no Brasil, pediu um posicionamento do presidente Lula sobre a guerra que atinge o país africano há décadas. Os congoleses participaram de um encontro na terça-feira (29), às 19h, no Hub Peregum, espaço do movimento negro em Brasília (DF).

Mibanga Benoit-Labre, embaixador da RDC no Brasil, participou do encontro e afirmou que o país africano tem sofrido uma guerra de invasão por parte de Ruanda e que há um silêncio por parte da comunidade internacional sobre o assunto.

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Os principais motivos dos ataques são a busca pelos minérios em abundância da RDC, como o cobalto, o coltan e o tântalo. Esses minérios são fundamentais para a produção de aparelhos eletrônicos, como celulares, e carros elétricos.

“Nosso país fez movimentos para a Europa para deixar de importar minérios de Ruanda, porque esses são minérios de sangue. Eles não fizeram o que pedimos”, afirmou o embaixador.

Mibanga Benoit-Labre, embaixador da República Democrática do Congo no Brasil
Mibanga Benoit-Labre, embaixador da República Democrática do Congo no Brasil. Foto: Ana Flávia Barbosa

Ainda participaram do evento Prosper Dinganga, coordenador do A Voz do Congo; Pedro Borges, jornalista da Alma Preta; e Mariana Andrade, integrante do Hub Peregum e mediadora do debate.

Dados do Mapping Report da ONU, de 2010, já sinalizavam para mais de 6 milhões de mortes. As Nações Unidas ainda acreditam que cerca de 1.100 mulheres sejam vítimas de estupro por dia no país.

Apesar disso, o presidente Lula não se posicionou nenhuma vez sobre a guerra. Prosper Dinganga acredita que uma fala do chefe de Estado do Brasil pode ter um impacto positivo para o fim do conflito.

“Ele tem um protagonismo forte, é essa figura do Sul global cuja palavra ecoa e atinge os poderosos. O peso da fala dele vai colocar luz sobre o que está acontecendo e isso vai repercutir no mundo todo. Ele pode mobilizar a comunidade internacional e isso pode ser histórico”, afirmou.

No dia 25 de abril, o governo dos Estados Unidos mediou um encontro entre a República Democrática do Congo e Ruanda, acusada de mandar tropas para o território congolês e apoiar militarmente o M23, grupo rebelde contrário ao governo de Kinshasa. Os dois países se comprometeram a apresentar um acordo de paz até o dia 2 de maio.

Os EUA prometeram o investimento público e privado na região. Os norte-americanos têm interesse em extrair os minerais do leste da RDC, importantes para a transição energética de combustíveis fósseis para baterias elétricas.

Encontro em Brasília em 29 de abril de 2025 discutiu o conflito na República Democrática do Congo. Foto: Ana Flávia Barbosa

Pedidos dos imigrantes congoleses

Depois da atividade, o coletivo A Voz do Congo apresentou uma carta com o objetivo de chegar ao presidente Lula e aos ministros Mauro Vieira, das Relações Exteriores; Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos e da Cidania; e Anielle Franco, da Igualdade Racial.

O documento ainda pede que o Brasil faça uma ajuda humanitária para a República Democrática do Congo, com alimentos e medicamentos, e que o Brasil ofereça visto humanitário para cidadãos congoleses que queiram deixar o país por conta da guerra.

Na carta, o grupo A Voz do Congo afirma que os congoleses são vítimas de um genocídio, descrito como “Geno-cost”, por conta das motivações financeiras para a brutalidade contra as pessoas da RDC.

“A exploração ilegal de nossos vastos recursos natural, como cobalto, coltan e ouro, alimentam uma rede de interesses que se beneficia diretamente da instabilidade e da violência. A disputa pelo controle desses minerais preciosos leva a massacres, deslocamentos forçados e outras atrocidades indizíveis”.

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  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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