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Namíbia exige reparações em 1º memorial do genocídio cometido pela Alemanha

Presidente Netumbo Nandi-Ndaitwah reafirma em cerimônia, que marca o massacre de tribos Herero e Nama no início do século XX, e que auxílio financeiro alemão não substitui compensações históricas
A presidente da Namíbia, Netumbo Nandi-Ndaitwah (ao centro), acende uma vela durante o Dia da Memória do Genocídio nos Jardins do Parlamento em Windhoek, em 28 de maio de 2025.

A presidente da Namíbia, Netumbo Nandi-Ndaitwah (ao centro), acende uma vela durante o Dia da Memória do Genocídio nos Jardins do Parlamento em Windhoek, em 28 de maio de 2025.

— Jemima Beukes/AFP

29 de maio de 2025

A Namíbia realizou nesta quarta-feira (28) a primeira cerimônia oficial em memória ao genocídio cometido pelo império colonial alemão contra os povos herero e nama, entre 1904 e 1908. A presidenta do país, Netumbo Nandi-Ndaitwah, liderou a solenidade nos jardins do Parlamento, na capital Windhoek, e voltou a exigir reparações do governo da Alemanha, destacando que as ofertas de ajuda financeira feitas até agora não atendem às demandas históricas de justiça.

“Devemos encontrar algum consolo no fato de que o governo alemão reconheceu que as tropas alemãs cometeram genocídio contra o povo da nossa terra”, declarou a presidenta. Ainda assim, ressaltou que o país continuará mobilizado “até que uma conclusão definitiva seja alcançada”.

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Rejeição à proposta alemã de ajuda ao desenvolvimento

Entre 1904 e 1908, ao menos 60 mil herero e 10 mil nama foram assassinados pelas forças coloniais alemãs, após uma série de levantes contra o domínio imperial. A matança é considerada o primeiro genocídio do século XX. Diversas vítimas foram decapitadas e suas cabeças enviadas à Alemanha, onde foram usadas em experimentos pseudocientíficos para tentar comprovar uma suposta superioridade racial branca.

A Alemanha reconheceu oficialmente o genocídio em 2021, após longas negociações iniciadas em 2013. No entanto, o governo alemão oferece como alternativa o repasse de mais de 1 bilhão de euros (aproximadamente R$ 6,4 bilhões) em ajuda ao desenvolvimento ao longo de 30 anos. A Namíbia rejeitou essa proposta, argumentando que os recursos não representam compensações ou reconhecimento formal das reparações devidas.

Participação internacional e memória coletiva

O evento desta quarta-feira reuniu cerca de mil pessoas e contou com a presença do embaixador da Alemanha na Namíbia, Thorsten Hutter. Em sua fala, o diplomata reconheceu o sofrimento causado pelas tropas imperiais alemãs e afirmou que o papel da geração atual é lembrar os crimes cometidos, ainda que o passado não possa ser alterado.

Durante a cerimônia, foram acesas velas em homenagem às vítimas e respeitado um minuto de silêncio, seguido por discursos e apresentações musicais.

Devolução de restos mortais e reconhecimento do genocídio

A Alemanha já havia devolvido à Namíbia restos mortais de vítimas do genocídio em duas ocasiões: 2011 e 2018. As datas marcam esforços simbólicos de reparação, mas não têm atendido à reivindicação central do país africano por reparações financeiras formais.

A data de 28 de maio foi escolhida para o “Dia da Memória do Genocídio” porque, em 1907, as autoridades alemãs encerraram oficialmente os campos de concentração após crescentes críticas internacionais às condições desumanas e à alta mortalidade nos locais.

Desde este ano, a data foi decretada feriado nacional na Namíbia, país com cerca de três milhões de habitantes.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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