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O que muda nos EUA com a condenação do policial que matou George Floyd?

Segundo professor de Relações Internacionais, a violência policial contra a população afro-americana passa por questões como a indústria de armas e sindicatos policiais 

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: The Minnesota Department of Corrections

Imagem de um homem branco, com roupas de detendo amarela, olhando para a câmera, com um fundo cinza; Trata-se do ex-policial Derek Chauvin, condenado pela morte de George Floyd

23 de abril de 2021

A condenação do ex-policial Derek Chauvin, responsável pela morte de George Floyd, foi um dos assuntos com maior repercussão nas redes sociais nesta semana e trouxe à tona o seguinte questionamento: isso deve interferir no histórico de violência policial dos Estados Unidos? 

“É possível que a gente tenha algumas mudanças, mas precisamos acompanhar os julgamentos futuros. A morte de Floyd tinha um diferencial porque foi repercutida por toda a imprensa mundial, além das manifestações”, avalia o professor de Relações Internacionais, Flávio Francisco, da Universidade Federal do ABC (UFABC).

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Desde maio de 2020, após o assassinato de Floyd, o movimento antirracista Black Lives Matter desencadeou uma série de manifestações ao redor do país norte-americano, que ecoaram em outros países como o Brasil.

Para o professor, a atuação do movimento teve um papel significativo no desdobramento do caso Floyd, assim como no fomento de pautas sobre o racismo pós-racial, realidade no contexto dos EUA. Isso porque, ao longo da década de 1980, cientistas sociais classificavam o racismo como um problema de classe e não social. 

“O movimento traz uma pauta centrada na violência policial, uma das engrenagens principais do racismo, que se concretiza no encarceramento em massa e na guerra às drogas”, explica Flávio.

Na análise do especialista, outro ponto de destaque sobre o caso Floyd foi o posicionamento do novo presidente norte-americano. O democrata Joe Biden se manifestou a favor da condenação de Derek Chauvin, junto com a vice-presidente Kamala Harris

“Ela tem uma atuação diferente do padrão de vice-presidente e tem sido protagonista nos assuntos sobre a questão racial e de violência”, observa o professor. “Biden, como presidente, pode ser que siga nessa trajetória para construir leis que possibilitem o controle sobre as polícias nos Estados Unidos”, considera Flávio, que alerta sobre a importância de levar em conta outras perspectivas do contexto policial no país quando se trata de possíveis mudanças e redução da violência contra a população afro-americana.

“Os policiais não estão sozinhos”

Na terça-feira (20), dia do julgamento do ex-policial que matou Floyd asfixiado, uma adolescente negra de 16 anos foi morta a tiros por uma policial, em Ohio. A policial afirma que foi atender a uma chamada de emergência e que identificou Ma’Khia Bryant, como autora de um esfaqueamento. Imagens de câmera de segurança mostram o momento em que a jovem foi alvejada. 

Segundo o professor de Relações Internacionais, a violência policial ainda é vista com bons olhos por grande parte dos norte-americanos, que apoiam a corporação independente do contexto. “Muitos vão  resistir e apoiar a violência e as forças policiais. Os policiais não estão sozinhos”, conta.

No país a polícia também exerce um papel importante no crescimento do mercado de armas. “A indústria de armas precisa ser discutida porque tem um braço político que é a Associação Nacional do Rifle”, analisa.

De acordo com o jornal Insider, os EUA investem 15,4 bilhões de dólares na militarização de policiais. Todas as armas, veículos e equipamentos foram adquiridos pela polícia no programa militar chamado de 1033, criado em 1997, que facilita a transferência de excesso de equipamento militar a partir da lei total de cada estado.

A mudança na atuação dos policiais, sobretudo nos casos de violência contra a população negra, certamente enfrentará resistência dentro da polícia e deve partir da pressão de políticos e da própria população. “Essa pressão é muito importante, mas nenhuma mudança ou redução dos casos de violência pode acontecer de forma tão rápida e simples”, conclui o professor. 

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