Orgão internacional estima que 44 milhões correm o risco de serem contaminadas no continente
Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Simone Freire | Imagem: Frank Dejongh/Unicef
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um estudo que mostra que, se a pandemia de Covid-19, o novo coronavírus, não for controlada, podem morrer entre 83 mil e 190 mil pessoas por causa da doença na África.
Baseado em um modelo de previsão, o estudo divulgado na quinta-feira (7) mostra que 44 milhões correm o risco de ser contagiadas no continente. A análise leva em conta 47 países africanos, com uma população total de um bilhão de pessoas, e revela também uma taxa de transmissão mais lenta e taxas de mortalidade inferiores às de outras partes do planeta, segundo informações da agência francesa Efe.
“Embora seja pouco provável que a Covid-19 se espalhe tão exponencialmente na África como em outras partes do mundo, é possível que exploda em pontos críticos de transmissão”, declarou Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para a África, em entrevista coletiva virtual.
A probabilidade de o novo coronavírus chegar para ficar e de “um surto prolongado durante vários anos” são maiores, motivo pelo qual Moeti pediu uma “abordagem proativa” com testes, acompanhando, isolando e tratando os casos.
O estudo mostra ainda que o número de casos que exigirão hospitalização ultrapassa de forma considerável as capacidades médicas de muitos países. A projeção é que cerca de 3,6 milhões e 5,5 milhões de pessoas necessitarão de hospitalização, enquanto os leitos de unidades de terapia intensiva na maioria dos países são menos de 500.
A África do Sul tem mais de 3 mil leitos de UTI, mas a OMS advertiu que os países africanos têm uma média de nove. Segundo este estudo, entre 82 mil e 167 mil pessoas precisarão de oxigênio, mas 23 países africanos têm menos de 50 respiradores, e apenas dois — Marrocos e África do Sul — têm mais de mil.
Panorama
A Covid-19 já foi registrada em quase todos os países africanos, exceto no Lesoto. Até 7 de maio, mais de 51 mil casos tinham sido confirmados, além de 2.011 mortes, segundo anúncios governamentais e dados da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, reportados pela Efe.
Seis países acumulam a maior parte das mortes no continente africano: Argélia (473), Egito (469), Marrocos (183), África do Sul (153), Camarões (108) e Nigéria (103). Em número de casos confirmados, os países mais afetados são África do Sul (7.808), Egito (7.588), Marrocos (5.408) e Argélia (4.997), onde o governo instalou um hospital de campanha no acampamento de Chahid al-Hafed para atender as pessoas que vivem como refugiadas no deserto do Saara.
Em todo o mundo, os casos de coronavírus confirmados pela OMS chegaram a 3,93 milhões no domingo (10), após um aumento diário superior aos dias anteriores, com mais 94.932 notificações. As infecções nas Américas totalizam 1,65 milhões, quase o mesmo número da Europa, com 1,7 milhão. Já o número de mortes por Covid-19 no mundo aumentou para 274.488, pouco mais de 6 mil a mais que no relatório divulgado pela organização no sábado (9).
Além das mortes causadas pelo vírus, os impactos que a Covid-19 causa na economia pode trazer ainda mais perdas de vida, em especial em países com menores condições econômicas, como os do continente africano. A Comissão Econômica da ONU para a África, ECA, lançou em 17 de abril o relatório “Covid-19: Protegendo Vidas e Economias Africanas”, que associa os efeitos da pandemia a economias que já enfrentam dificuldades na região e que previa até 300 mil mortes no continente devido os impactos da doença. Isso porque além das mortes por Covid-19, previsões mais otimistas indicam que o crescimento econômico regional baixará de 3,2% para 1,8%, esperando-se que 27 milhões de pessoas possam cair na pobreza extrema.
Nesse sentido, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) emitiu um alerta ressaltando que as medidas de enfrentamento da pandemia irão piorar a pobreza e as vulnerabilidades de 2 bilhões de trabalhadores na economia informal. Em comunicado do dia 7 de maio, a agência da ONU disse que o aumento deve ser de 56% e 21%, em países de baixa e média rendas, respectivamente. Já nas nações de renda alta, o número de trabalhadores informais na mesma situação será de 52%.