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Presidente do Congo acusa Ruanda de expansão territorial e pede sanções internacionais

Félix Tshisekedi afirma que Kigali saqueia recursos naturais congoleses enquanto M23 avança em direção a Bukavu
O presidente da República Democrática do Congo Felix-Antoine Tshisekedi Tshilombo fala durante a 61ª Conferência de Segurança de Munique (MSC) em Munique, sul da Alemanha, em 14 de fevereiro de 2025.

O presidente da República Democrática do Congo Felix-Antoine Tshisekedi Tshilombo fala durante a 61ª Conferência de Segurança de Munique (MSC) em Munique, sul da Alemanha, em 14 de fevereiro de 2025.

— Michaela Stache/AFP

14 de fevereiro de 2025

O presidente da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, acusou Ruanda de ter “ambições expansionistas” e de explorar os recursos naturais da região leste do país. Em discurso na Conferência de Segurança de Munique, nesta sexta-feira (16), ele pediu sanções internacionais contra a capital Kigali e criticou a falta de ação global diante do agravamento do conflito.

As declarações ocorrem no momento em que combatentes do grupo armado M23, apoiado por Ruanda, avançam em direção a Bukavu, capital da província de Kivu do Sul. O grupo já tomou o aeroporto a 30 km da cidade e levou ao fechamento do comércio e à fuga de civis.

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Tshisekedi acusa Ruanda de tentar controlar minérios estratégicos, como terras raras, ouro e estanho, usados na fabricação de baterias e dispositivos eletrônicos. Kigali nega as acusações e justifica sua presença militar na região como necessária para combater grupos armados, especialmente as Forças Democráticas pela Libertação de Ruanda (FDLR), fundadas por ex-líderes hutus envolvidos no genocídio de 1994 contra os tutsis.

A crise levou ambos os países a chamarem de volta seus embaixadores e a RDC a fechar seu espaço aéreo para aeronaves ruandesas.

Efeitos da guerra e agravamento da crise humanitária

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que quase 3 mil pessoas morreram na nova escalada de violência, enquanto centenas de milhares fugiram para campos superlotados e sem condições sanitárias nos arredores de Goma. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (UNHCR) alertou que ataques contra infraestrutura civil e bloqueios à ajuda humanitária estão agravando a situação.

A falta de água potável em áreas dominadas pelo M23 forçou moradores a coletar suprimentos no Lago Kivu, onde corpos têm sido encontrados. Autoridades sanitárias alertam para um surto iminente de cólera.

Na fronteira com Burundi, que fechou temporariamente suas passagens para conter o fluxo de refugiados, moradores relatam um fluxo diário de deslocados fugindo dos combates.

Reações internacionais e tentativa de cessar-fogo

Diante do avanço do M23 e do risco de um conflito regional, a União Africana (UA) convocou uma reunião emergencial para buscar uma trégua antes da cúpula anual do bloco.

“O cessar-fogo deve ser respeitado”, declarou o presidente cessante da UA, Moussa Faki Mahamat, em Addis Abeba, Etiópia. Ele defendeu que ações militares não resolverão o conflito e pediu uma solução política para a crise.

Tshisekedi, que não compareceu à reunião, reiterou que só aceitará negociações com Ruanda caso haja medidas punitivas contra Kigali.

Enquanto isso, o M23 mantém seu avanço e aumenta os temores de que Bukavu, assim como Goma, caia sob controle do grupo rebelde. Caso isso ocorra, o M23 consolidará domínio sobre a região do Lago Kivu, que faz fronteira com Ruanda e Burundi, o que pode intensificar a instabilidade na região.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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