O Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas anunciou, nesta terça-feira (22), a suspensão da ajuda alimentar a 650 mil mulheres e crianças na Etiópia. A decisão decorre da escassez de recursos financeiros para manter a assistência nutricional no país africano.
O órgão alertou que, sem novos aportes emergenciais, 3,6 milhões de pessoas deixarão de receber qualquer tipo de apoio alimentar nas próximas semanas.
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“O PMA está sendo forçado a interromper o tratamento de 650 mil mulheres e crianças desnutridas em maio, devido à insuficiência de financiamento”, informou a agência em comunicado. A meta do PMA era alcançar dois milhões de mães e crianças com assistência nutricional em 2025.
Redução global na ajuda externa
A crise financeira do PMA ocorre em um contexto de queda generalizada da ajuda internacional. Após assumir o mandato em janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspendeu por três meses todo o repasse de ajuda externa. Outros países ocidentais também cortaram seus orçamentos de cooperação internacional.
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a assistência ao desenvolvimento global caiu 7,1% entre 2023 e 2024, o primeiro declínio em seis ano
Conflitos internos e crises ambientais agravam cenário
Mais de 10 milhões de etíopes enfrentam fome atualmente. O país, com cerca de 130 milhões de habitantes, ainda sofre os efeitos da guerra civil que ocorreu entre 2020 e 2022 na região de Tigray, com saldo estimado de 600 mil mortes. Cerca de um milhão de pessoas seguem deslocadas na região.
Os conflitos armados continuam em Amhara e Oromia, regiões mais populosas da Etiópia, agravando a situação humanitária. A violência tem impedido o acesso das equipes do PMA a mais de meio milhão de pessoas em situação de vulnerabilidade.
A Etiópia também enfrenta forte seca, especialmente na região de Somali, que faz fronteira com a Somália. O país ainda recebe milhares de refugiados do Sudão e Sudão do Sul, onde há guerras civis em curso.
Se os fluxos de refugiados continuarem e não houver financiamento adicional, a assistência alimentar e em dinheiro a até um milhão de pessoas deve ser suspensa já em junho.
O PMA estima um déficit de US$ 222 milhões para manter suas operações na Etiópia entre abril e setembro. Zlatan Milisic, diretor do PMA no país, fez um apelo aos doadores e à comunidade internacional: “Este é um momento crítico para lembrar ao mundo que a situação humanitária na Etiópia é grave e tende a piorar”.