A mais antiga versão da história de Cinderela data da China, por volta de 860. Charles Perrault e os Irmãos Grimm apresentaram ao mundo as versões mais conhecidas, entre centenas de outras, inclusive eternizadas em obras audiovisuais estadunidenses e europeias. Agora, a escritora, educadora e contadora de histórias Mafuane Oliveira lança “Cinderela do rio”, livro infantil que conta com ilustrações de Taisa Borges e posfácio de Bel Santos Mayer, além de marcar a estreia do Selo Chaveiroeiro.
O lançamento irá ocorrer no dia 4 de setembro, na Biblioteca Mário de Andrade, na região central de São Paulo. O evento contará com uma roda de conversa entre a autora e Bel Santos Mayer, com mediação de Bianca Santana, além de sessão de autógrafos e contação de histórias.
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Mafuane Oliveira é uma eterna aprendiz da contação de história. Embora popularmente no Brasil e em muitas tradições africanas nomeiem as contadoras que repassam o conhecimento através da palavra falada de gritos, Mafuane lembra que o escritor malinês e mestre da tradição oral Amadou Hampâté Bâ diz que os griots estão longe de serem os únicos transmissores de histórias e memórias. O griot é um integrante de um conjunto maior de “mestres ou tradicionalistas da palavra”, que são os grandes depositários do legado da tradição oral.
Esses mestres, na cultura bambara, podem ser chamados também de Doma ou Soma, Conhecedores, ou Donikeba, “fazedores de conhecimento”. A diversidade de mestres transmissores de saberes pode também variar de acordo com o ramo tradicional específico que o contador de histórias pertence”.
Mafuane chegou na versão final de “Cinderela do rio” após anos de encantamento ouvindo sua avó baiana, Judite Maria de Jesus, contando histórias. A escritora juntou a isso a pesquisa de tradição oral da professora Dra. Edil Silva Costa, que recolheu histórias populares de cinderela entre mulheres da Bahia, além de outras referências pessoais.
Assim, Mafuane lapidou a jornada de Mariazinha, ribeirinha do Nordeste, separada de sua mãe e forçada a trabalhar na casa de sua madrinha, como muitas meninas e mulheres que dedicaram suas vidas ao trabalho doméstico como se fossem “quase da família”.
“É interessante eu poder recontar essas histórias, sendo também de uma família de mulheres baianas, um clã de trabalhadoras domésticas, rurais, lavadeiras e cozinheiras que superaram abusos e se reinventaram de inúmeras formas para dar uma vida digna e encantada às suas filhas e filhos. Quando falamos sobre a ‘cultura popular brasileira’, não podemos esquecer que grande parte dela é originada das culturas indígenas e africanas”, diz a escritora.
O livro torna-se universalmente identificável para o leitor brasileiro de todas as idades, trazendo elementos comuns de nossa cultura em toda a extensão da narrativa. O reconto de Mafuane é fluído, resultado da sensibilidade adquirida com os anos de leitura e contato com a rica tradição oral de sua família.
Aliam-se a isso as dinâmicas ilustrações de Taisa Borges. A artista usa os desenhos como adendo fundamental do conto, estabelecendo um precioso diálogo entre escrita e imagem, capturando de forma exemplar os anseios da personagem e os elementos da cultura que também ganham vida na história.
Se a Gata Borralheira que conhecemos busca nos comover pelo sofrimento imposto por sua madrasta e irmãs, em “Cinderela do rio” temos o pano de fundo (nem tão fundo assim) do contexto social brasileiro, que traz pungência à história, negando-se a subestimar a inteligência de seu público, discorrendo sobre desigualdades, privilégios e injustiças, porém jamais negando a possibilidade de sonhar.
A publicação do livro contou com projeto gráfico de Juão Vaz e produção executiva de Caru Laet, sob projeto editorial assinado pela Editora Peirópolis, que neste ano comemora 30 anos de atuação no mercado de livros infantis e infanto-juvenis.