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81% das pessoas negras LGBTQIAP+ foram vítimas de discurso de ódio nas eleições

Pesquisa do data_lab, realizada no Rio de Janeiro, revela que a população negra LGBTQIAP+ foi a que mais sofreu com discurso de ódio no último pleito eleitoral

Imagem: Pau Barrena/AFP

Foto: Imagem: Pau Barrena/AFP

24 de março de 2023

Uma pesquisa desenvolvida e produzida pelo datal_labe — laboratório de dados e narrativas na favela da Maré — na cidade do Rio de Janeiro, entre os meses de setembro e dezembro de 2022, revela que, no período do último pleito eleitoral, 81% das pessoas negras LGBTQIAP+ entrevistadas relataram ter sofrido violência de gênero e raça, além do contato com o discurso de ódio. 

O estudo mostra que as menções mais recorrentes a esses episódios se referem a Bolsonaro, bolsonaristas e as redes sociais. Com isso, 67% dos entrevistados relataram ter sido vítima de discurso de ódio, sendo 15% de maneira apenas online, 7% apenas presencial e 45% já sofreram o discurso de ódio de ambas as formas. 54% das pessoas afirmarem que o tipo de violência cresce no período eleitoral. 

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Essas violências estiveram mais presentes no ambiente offline, mas 31% dos entrevistados relataram que já se sentiram violentadas por influenciadores ou comunicadores, a exemplo dos canais de televisão como Rede Record e Bandeirantes, além do apresentador Silvio Santos (SBT) entre os mais mencionados como agentes causadores. 

Uma das entrevistadas, mulher cisgênero lésbica, representante do coletivo Intervozes, afirmou que a pauta conservadora e de costumes é a que mais mobiliza a base do bolsonarismo considerado ‘raiz’. “É uma pauta de ataque à população LGBT e às mulheres diretamente. É pauta de controle dos corpos das mulheres, pauta de controle dos corpos LGBTs. E aí, quando a gente está falando de um discurso de ódio, quem são os odiados, né? Os odiados somos nós! Os odiados são a população preta, a população de favela, são as mulheres, é a população LGBT, principalmente as pessoas trans”. 

Uma mulher transexual e travesti relatou ter sofrido ataque transfóbico vindo de pessoas pretas. “Eu estava com o meu namorado e a gente sofreu algum tipo de ataque, eram de pessoas pretas também. Então, tipo assim, é algo a se pensar, sabe? Que obviamente são pessoas que sofreram também, né, que passaram por esse tipo de constrangimento. E a gente cai numa cadeia, de um processo que só vai girando. Como a gente consegue mudar isso?”, questiona. 

Esses e outros depoimentos podem ser encontrados na pesquisa Análise do Ecossistema da Informação (IEA), desenvolvida pelo data_labe.

Os efeitos do discurso de ódio nas eleições 2022 

A psicóloga clínica Clarissa Gomes, 29, especialista em saúde mental com foco na população negra e pacientes enlutados explica que o período eleitoral de 2022 elevou o nível de estresse das pessoas. “O discurso de ódio, que foi disseminado afetou a saúde mental na individualidade e os grupos minoritários”.

A especialista explica que, ao falar da população negra LGBTQIAP+, “precisamos bater na tecla da interseccionalidade. É o grupo afetado diretamente por falas racistas e homofóbicas, são excluídos e violentados em todas as instâncias de suas vidas”. Ela também destaca que existem tipos de violências mais diretas e micro violências, que expõem os indivíduos a situações humilhantes. 

Essas situações são normalizadas e aparentemente podem ser classificadas como “inofensivas, [ditas] em tom de brincadeira, mas que tem a mesma gravidade de uma violência explícita quando falamos de sofrimento emocional”, explica Clarissa. “Podemos falar em um período de estresse altíssimo, que tem como resultado uma exaustão mental e física, transtorno de ansiedade e depressivo”, pontua. 

O estudo

A pesquisa com o título Análise do Ecossistema da Informação (IEA) recebeu 175 respostas por meio de formulário online, mas apenas 139 fizeram parte da anális, tendo como idade média 29 anos — algumas das respostas vieram de indígenas ou brancos, deixando a comunidade em foco. O público participante apresentou identidade de gênero e orientação sexual heterogêneas, com uma maior participação de mulheres cisgêneras bissexuais, e pessoas com ensino superior incompleto. 

Apesar da maior parte das pessoas possuírem alto nível de escolaridade (ensino superior incompleto), 45% dos respondentes afirmaram receber até R$1.212,00 por mês, o que demonstra uma vulnerabilidade econômica dos participantes. 

Os entrevistados são pessoas negras LGBTQIAP+ que residem ou votam na cidade do Rio de Janeiro. Eles foram ouvidos pelo laboratório de dados e narrativas na favela da Maré por meio de uma metodologia que englobou grupos focais, entrevistas, questionário e bibliografia que considerassem a pluralidade do grupo.

Leia também: Alma Preta e data_labe vencem prêmio de jornalismo de dados

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