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A vida de uma estudante após a perda de um familiar na pandemia

A série “Estudantes na Alma Preta” traz as histórias de jovens da rede estadual de ensino da Bahia narradas a partir da perspectiva deles

Imagem: Alma Preta Jornalismo

Foto: Imagem: Alma Preta Jornalismo

15 de dezembro de 2021

Os últimos meses têm sido difíceis. Diariamente vivenciamos diversas perdas e dores ocasionados pela pandemia da Covid- 19, que ceifou mais de 600 mil vidas somente no Brasil. Dados afirmam que alguns dos fatores principais que ocasionaram todos esses óbitos foram as desigualdades sociais, a falta de mais investimentos na área da saúde pública e a falta de comprometimento em relação às medidas de prevenção contra o vírus. Eu fui uma das pessoas que perderam um ente querido durante essa pandemia.

O meu padrasto Antônio João Penalva Almeida Argolo faleceu em 18 de abril de 2021 após 21 dias internado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).Ele tinha 51 anos, não possuía nenhuma comorbidade e nem doença crônica. Lembro dele sempre falando virtualmente para os alunos da minha sala sobre a importância dos cuidados que tínhamos que ter durante a pandemia e sobre os conhecimentos que deveríamos adquirir para um governo melhor, que pudesse agir de maneira mais eficaz sobre toda situação.

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Ao escrever essa redação me recordo sobre os sentimentos de dor, desespero, impotência e ansiedade vividos perante aquelas três semanas. Estávamos sobrevivendo a um grande monstro invisível que parecia não ter fim e, ao mesmo tempo em que o meu padrasto estava internado na UTI, o meu irmão residiu no quarto isolado por quase 14 dias . Eu e a minha mãe tivemos que tirar a minha avó de casa para que ela não corresse o risco de contrair a covid.

A cada dia tínhamos que respirar e tentar amenizar a dor e o desespero ao receber uma ligação ou alguma mensagem do hospital. Havia naquele momento eu e a minha mãe juntas, tentando sobreviver . A cada vez que o celular tocava eu sentia o suor, as minhas mãos trêmulas e os meus batimentos cardíacos acelerados. Eu conseguia sentir metaforicamente toda dor que a minha mãe estava resguardando dentro dela para que eu não pudesse senti-la. Foi uma grande luta, talvez uma das mais difíceis que poderíamos vivenciar e sofrer.

As sequelas que o vírus nos ocasionou foi tão maior emocionalmente quanto fisicamente.

“Era como se você estivesse no meio do mar e o seu barquinho estava prestes afundar e você tinha que continuar remando até a costa ou sair do barco e ir nadando, mas a consequência seria a mesma: O cansaço físico e mental e o trauma de nunca mais conseguir entrar em um mar aberto”.

Após oito meses da perda do meu padrasto, tive que continuar, continuar vivendo, ou ao menos tentando. Estou finalizando o último ano do ensino médio, faço um curso técnico em Nutrição Dietética e tenho um projeto chamado “Believe” , que retrata a importância da prevenção do suicídio na sociedade.

O projeto tem abordado temáticas que de certo modo me ajudam a amenizar o caos que ainda tento sobreviver. Também dou aula para duas crianças da quarta série e faço parte da monitoria do colégio que estudo, o CETEP/LNAB . Hoje aprendi que o sofrimento causado pelo isolamento é muito maior quando você perde alguém da família e não pode dar um abraço, não pode se despedir e nem dizer um elogio e essa dor é muito maior do que o sofrimento de você estar na sua casa e não poder sair pra ir pra academia ou não ir até uma festinha com os seus amigos.

O amor de alguém se foi, alguém que você ama pode infelizmente correr o risco de também ir, então precisamos a cada dia manter as prevenções e pensar mais sobre a real situação que ainda estamos vivendo, mesmo que algumas pessoas possam estar com os olhos fechados .

Sobre a autora: Ariele Oliveira é uma jovem de 18 anos, moradora da cidade de Esplanada, na Bahia, e estudante do Ensino Médio no CETEP – Centro Territorial de Educação Profissional.

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