Trabalhadores ambulantes e barraqueiros do Pelourinho, em Salvador, realizaram um protesto nesta sexta-feira (3) para denunciar uma perseguição que a categoria alega sofrer devido à instalação do restaurante Mariposa no Largo Terreiro de Jesus, Centro Histórico da capital baiana.
Segundo a categoria, mais de 70 trabalhadores do Terreiro de Jesus e de outras áreas do Pelourinho estão impedidos de trabalhar na região. Em nota enviada à Alma Preta, o Mariposa nega as acusações e diz que o empreendimento privado não tem relação com decisões governamentais.
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Telma Lima, integrante da Associação de Barraqueiros do Pelourinho, diz que a conduta por parte dos empresários e da subprefeitura do Pelourinho é uma tentativa de expulsar os trabalhadores que atuam no local há anos e ressaltou as dificuldades enfrentadas pela categoria.
“É uma tentativa de expulsão em massa. Não são somente os barraqueiros, são as trancistas, os pintores […] Todo mundo passando fome. A condição para voltar seria a requalificação. Fizemos o curso, com dificuldades, deram o certificado, crachá, colete e agora a gente não tem um espaço para voltar a trabalhar. Do que adianta?”, questiona a ambulante, que trabalhava há mais de 40 anos no Terreiro de Jesus.
Ainda segundo Telma, o protesto foi intitulado “Ambulantes vão passar o natal com fome”, uma forma de denunciar o descaso sofrido pela categoria, que também alega que teve a dinâmica de trabalho alterada desde a requalificação da Praça do Terreiro de Jesus, no centro do Pelourinho. Os ambulantes pedem que o prefeito Bruno Reis mantenha a palavra para autorizar o retorno dos ambulantes à praça principal.
“Estamos pedindo apoio porque estamos cansados de ficar negociando com um, pedindo a outro, não somos atendidos, pedimos uma reunião, dizem que não tem agenda. Ficamos nessa humilhação esse tempo todo e passando necessidade”.
A Associação dos Barraqueiros do Terreiro de Jesus e Pelourinho afirma que desde o último protesto, realizado em maio, apenas 16 trabalhadores tiveram autorização para retomar os pontos, porém, em regiões distantes da praça principal. Apesar da autorização, eles ainda alegam que foram impostas restrições, como a proibição de colocar cadeiras nas barracas para os clientes.
“Os 16 que voltaram na Praça da Sé não tem dinheiro nem para trabalhar, estão passando dificuldade. São mães de família, mulheres negras”, ressalta Telma.
“Os comerciantes dizem que a gente suja a praça, que a gente enfeia a praça, que ali vai ser uma praça de elite. E nós somos o que? Somos bichos? E a nossa sobrevivência? A gente vai fazer o que da vida? Essas mães estão aqui à toa”.
Posicionamento
Em nota, a Prefeitura de Salvador informou que, com a requalificação do Terreiro de Jesus em 2019, o comércio informal foi ordenado e os trabalhadores que não puderam permanecer no local foram realocados para a Praça da Sé, na entrada do Pelourinho.
A prefeitura também informou que cada trabalhador recebeu mesas e cadeiras para a padronização e maior conforto aos ambulantes. A prefeitura também completou dizendo que “as medidas foram acordadas entre a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e os próprios ambulantes”.
Já o Mariposa informou que o empreendimento privado não tem relação com decisões governamentais do Centro Histórico e disse que apoia todas as decisões que garantem inclusão social, respeito à diversidade e geração de emprego e renda.
“Ter seu nome caluniosamente relacionado em tema de suma importância para o desenvolvimento do Pelourinho é desvirtuar e confundir a opinião pública. Medidas judiciais serão tomadas para garantir transparência de informação e idoneidade do empreendimento, seus representantes e seus funcionários que tanto se esforçam para também levar o sustento de suas famílias para o lar”, completa a nota.
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