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‘Estão escravizando a gente’, diz entregador de aplicativo durante ato em São Paulo

1 de julho de 2020

Paralisação, com adesão nacional, reuniu cerca de 2 mil trabalhadores na avenida Paulista neste 1º de julho

Texto: Juca Guimarães e Pedro Borges I Edição: Nataly Simões | Imagem: Pedro Borges

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A paralisação nacional dos entregadores de aplicativo por melhores condições de trabalho mobilizou diversas capitais do Brasil nesta quarta-feira (1). Na avenida Paulista, região central de São Paulo, aproximadamente 2 mil trabalhadores prestadores de serviço para empresas como UberEats, iFood, Rappi, James e Loggi se reuniram em protesto por volta das 14h.

“Estão escravizando a gente. Na UberEats eu estou bloqueado desde a Páscoa. Eu ligo e o suporte deles não ajuda em nada. Está horrível trabalhar em aplicativo. Eles não ouvem a gente. Estão pagando R$ 0,50 por km”, conta Wesley Santana, que trabalha em cinco aplicativos.

Segundo a Pesquisa do Perfil dos Entregadores Ciclistas de Aplicativo, elaborada pela Aliança Bike, a média salarial da categoria é de R$ 963 por mês e pelo menos 14h de trabalho por dia. Do total, 71% dos trabalhadores são negros.

Nas redes sociais, o ato deste primeiro dia de julho também gerou uma mobilização significativa com a hashtag #BrequeDosApps, onde as pessoas ressaltam a importância de não realizar pedidos nos aplicativos.

João Paulo dos Santos trabalha em três aplicativos e conta que está bloqueado em outros. “São uns enganadores. No começo até pagam mais ou menos, dão bônus e tal, mas quando atingem um número alto de trabalhadores, fazem o que querem e bloqueiam sem nem falar o motivo”, afirma.

Santos lembra ainda que os riscos do trabalho recai somente sobre os entregadores. “A moto é nossa, a gasolina é nossa, a vida é nossa. E não está dando. Chegou no limite. Vamos continuar parando até resolver isso”, argumenta.

Para Clarisse Stavola, assessora política do Movimento dos Entregadores Antifascistas, coletivo que tem se destacado nas capitais, o apoio de diferentes regiões do país faz da paralisação um momento histórico. “Estamos recebendo vídeos de todas as capitais e apoio de muitas pessoas. É uma união da classe trabalhadora como a gente não vê há muitos anos”, conta Clarisse Stavola, assessora política do Movimento dos Entregadores Antifascistas.

A comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) atuou como mediadora do ato a fim de garantir que não houvesse repressão contra os manifestantes. “Estamos vivendo um momento interessante do ponto de vista da mobilização popular em todo o mundo”, ressalta Ana Michaela Jacomini, advogada do Núcleo de Ações Emergenciais da comissão.

Nas redes sociais, sem citar a paralisação, a iFood afirmou ter investido cerca de R$ 25 milhões em iniciativas de conforto e segurança para os entregadores. Pela manhã, a coluna do jornalista Leonardo Sakamoto, no portal UOL, publicou a transcrição de áudios recebidos pelos entregadores com ameaças caso participassem dos protestos.

De acordo com a coluna, os áudios seriam de um Operador de Logística (OL), espécie de intermediário entre os aplicativos e entregadores que trabalham em áreas e horários pré-determinados. Quem não entra na lista de um OL tem que trabalhar na opção de nuvem, recebendo menos chamadas de entrega.

Conforme apurado pelo Alma Preta, durante o protesto na avenida Paulista muitos entregadores preferiram não se identificar ou dar entrevista por receio de serem bloqueados nos aplicativos e ficarem sem fonte de renda. Em recente reportagem, o Alma Preta também ouviu a versão das empresas sobre as acusações de bloqueio e más condições de trabalho.

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