A militante e secretária de Gênero e Etnia do Sintero (Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Rondônia), Rosa Negra, denuncia represálias após ter sido vítima de assédio sexual pelo professor e secretário de Organização do sindicato, José Augusto Neto.
A ativista, que também integra o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e a Coordenação nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), teve um relacionamento com o dirigente e durante um momento íntimo ele teria gravado um vídeo sem o consentimento dela.
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A partir disso, o dirigente teria compartilhado o vídeo com uma colega do sindicato, segundo consta no depoimento da vítima registrado no Boletim de Ocorrência, documento ao qual a Alma Preta teve acesso.
“Quando ele falou com ela que estava saindo comigo, ela pediu uma prova porque era uma coisa que estava no privado. Ele preparou um cenário e mandou o vídeo para ela, que mostrou para outra pessoa que veio conversar comigo e disse que tinham um vídeo íntimo meu”, desabafa.
A secretária alega que se sentiu ameaçada por José Augusto após cobrar a prestação de contas de uma campanha eleitoral de 2020, no qual eles trabalharam juntos. Em resposta, ele teria dito que tinha “coisas guardadas”.
O caso foi registrado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher em Porto Velho (Rondônia) em agosto deste ano e no mês de outubro Rosa teve o pedido de medida protetiva aceito pelo 2º Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. “Tem sido muito difícil. Eu não durmo. Já chorei muito. Está sendo um pesadelo”, relata.
‘Retaliação’
Em meio à denúncia de assédio, Rosa relata ter sido submetida a represálias dentro do sindicato, onde os envolvidos ainda trabalham, como a divulgação de uma nota interna de repúdio em que o Sintero alega “atitudes inaceitáveis” da titular da pasta de Gênero e Etnia no ambiente de trabalho, como agressões verbais e calúnias contra diretores do sindicato.
A nota, assinada por 13 dirigentes do sindicato, aponta que a secretária teria negligenciado casos de violência contra as mulheres, principalmente mulheres brancas e/ou pardas do sindicato. Em um trecho, o documento cita que a secretária “atua com discurso preconceituoso de segregação, atacando verbalmente e apelidando as diretoras de ‘cor branca'”.
À Alma Preta, Rosa classifica a nota como “uma retaliação pela minha postura de denunciar”.
Em resposta ao Sintero, integrantes de movimentos sindicais, negro e dos direitos das mulheres de Rondônia e Porto Velho solicitaram um pedido de ajuste de conduta e repúdio à postura de dirigentes do Sintero contra mulheres do sindicato, incluindo a secretária Rosa Negra.
“Em reunião da executiva, a Secretária de Gênero e Etnia comunicou a necessidade da direção fazer encaminhamentos acerca de tantas denúncias de violência de gênero e foi terrivelmente agredida por diretores […] chamada de ‘rainha da cocada preta, que chamava todos de machistas’ e que seria necessário que os homens fossem chamados a cada denúncia”, relata um trecho do documento.
A Alma Preta questionou o Sintero sobre o recebimento das denúncias de assédio e quais medidas foram tomadas sobre as possíveis represálias. O sindicato informou que encaminhou a nossa solicitação para a Secretaria-Geral “para apuração da presidência”, mas não obtivemos retorno até o fechamento da reportagem. O espaço segue aberto em caso de manifestação.
Para além das denúncias, Rosa também expõe as fragilidades no sistema de justiça para mulheres vítimas de violência. “A maior exposição foi eu ser gravada e agora a gente precisa publicizar para que outras mulheres também tenham coragem de fazer isso. É preciso muita coragem para denunciar o agressor”, pontua.