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Bandeira amarela: aumento na conta de luz preocupa mães atípicas

O programa Tarifa Social, do Governo Federal, não é suficiente para atender todas famílias de baixa renda
Essa é a primeira alteração na conta de luz desde abril de 2022, após 26 meses consecutivos de bandeira verde, de acordo com a Aneel.

Foto: Reprodução/Pexels

2 de julho de 2024

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que a conta de luz sofrerá um acréscimo de R$ 1,88 a cada 100 kW/h consumidos em julho. A cobrança adicional será feita devido ao acionamento da bandeira tarifária amarela.

De acordo com a Aneel, a previsão de chuva abaixo da média e a expectativa de aumento do consumo de energia elétrica justificam a tarifa extra. Essa é a primeira alteração na conta de luz desde abril de 2022, após 26 meses consecutivos de bandeira verde, de acordo com nota oficial da agência.

No entanto, mães de crianças com necessidades especiais se preocupam com o aumento tarifário da conta de luz, pois as contas podem aumentar significativamente. É o caso de Leidiany Almeida Silva, de 31 anos. Mãe-solo de duas crianças no espectro autista, ela paga, em média, R$ 600 de energia por mês.

“Por conta da hipersensibilidade sensorial das crianças [de quatro e sete anos], eles ficam muito incomodados e agressivos com altas temperaturas, então, precisei parcelar em 12 vezes um ar condicionado, pois aqui em Ubatuba [litoral norte de São Paulo] faz muito calor”, conta a revendedora de cosméticos à Alma Preta.

Além do gasto com ar condicionado, Leidiany diz que sua geladeira é antiga e consome mais energia elétrica do que as modernas. Fruto de doação, ela afirma não ter condições de trocar seus eletrodomésticos por novos e mais econômicos.

Gastos representam conforto mínimo

Janaína dos Santos, de 24 anos, é mãe de uma criança tetraplégica. O menino – Jhonatan, de seis anos –, ficou com lesões irreversíveis na coluna após um acidente de carro, que vitimou seu pai em 2022. Segundo ela, a tetraplegia impede que seu filho regule a temperatura corporal como as outras pessoas, o que a obriga a manter em casa um aquecedor e um ar condicionado.

Moradora da periferia de Guarulhos (SP), ela diz que os gastos com a conta de luz são altos, principalmente para atender às necessidades de seu filho.

“Nós moramos muito perto da mata, então o frio é muito frio e o calor é escaldante. A nossa casa é de telha, o que piora tudo, então, ele [Jhonatan] sente dores neuropáticas por conta da não-regulação da temperatura”, explica. “Não sei como vai ser agora com bandeira amarela, já que só de conta luz, por conta do aquecedor e do ar condicionado, já vai mais de um salário mínimo”, completa. 

Ventiladores, televisão, umidificador de ar e aparelho de suporte respiratório também contribuem para as contas altas, segundo a viúva. 

Tarifa Social não atende todo mundo

O programa Tarifa Social de energia elétrica, do Governo Federal, estabelece um desconto na conta de luz para famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) ou famílias que tenham entre seus membros alguém inscrito no Benefício de Prestação Continuada (BPC).

No entanto, a fila de espera para ser beneficiado pelo desconto é muito grande. Leidiany e Janaína, por exemplo, não conseguiram até agora. 

“Estou em espera desde janeiro, mas ainda não fui aprovada, mesmo comparecendo ao CRAS  [Centro de Referência da Assistência Social] para me cadastrar”, salienta Janaína.

“Eu queria que as pessoas entendessem que não é luxo ou que o gasto de energia elétrica é de propósito. Só quem é mãe atípica e pobre entende o sacrifício que é poder proporcionar o mínimo de conforto aos filhos que são especiais, então, a mudança na conta de luz é uma preocupação para nós que as pessoas não imaginam”, finaliza Leidiany. 

  • Caroline Nunes

    Jornalista, pós-graduada em Linguística, com MBA em Comunicação e Marketing. Candomblecista, membro da diretoria de ONG que protege mulheres caiçaras, escreve sobre violência de gênero, religiões de matriz africana e comportamento.

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