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Belém avança na luta antirracista com Memorial dos Povos Negros em fase final de construção

Iniciativa pioneira no Norte do Brasil, o Memorial Zélia Amador de Deus é inspirado na ancestralidade afro-amazônica e visa valorizar as culturas negras na capital paraense
Imagem da construção do Memorial dos Povos Negros, em Belém, em sua fase final de construção. A obra recebeu vistoria da prefeitura da capital paraense.

Foto: Reprodução/Agência Belém

3 de janeiro de 2025

Belém, a capital do Pará, se prepara para inaugurar o Memorial dos Povos Negros Zélia Amador de Deus. Localizado no Complexo Turístico Ver-o-Rio, o projeto está em fase final de construção e é resultado de uma ampla mobilização popular, liderada por movimentos negros e comunidades de matriz africana. 

A obra é considerada um símbolo de resistência e da luta antirracista, além de celebrar a contribuição dos povos negros à formação cultural e social da Amazônia.

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Com mais de 70% de sua população autodeclarada negra, Belém se destaca no cenário nacional pelas políticas públicas voltadas à promoção da igualdade racial. Entre as iniciativas, destacam-se a criação da Coordenadoria Antirracista (Coant), o primeiro Estatuto de Promoção da Igualdade Racial da Região Norte e a atuação do Conselho Municipal de Igualdade Racial. 

O Memorial dos Povos Negros se soma a esse conjunto de ações, marcando a valorização da história e cultura negras em um espaço dedicado à memória, educação e celebração.

Projeto concebido com participação popular

O Memorial foi projetado pelo prefeito Edmilson Rodrigues, arquiteto e urbanista, em parceria com o professor José Raiol, coordenador de projetos especiais. O conceito da obra reflete a ancestralidade africana e amazônica, simbolizada pela estrutura em forma de proa de embarcação, que remete às viagens marítimas realizadas pelos povos negros até a região.

“O Memorial é resultado de uma decisão popular tomada durante o Primeiro Congresso de Negros e Negras de Belém, que apontou a construção de um espaço simbólico e antirracista como prioridade. É uma obra que expressa a resistência histórica contra a escravização e a luta pela igualdade racial no Brasil”, declarou o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSL-PA) em publicação da Agência Belém.

Estrutura e simbolismo

O Memorial inclui uma rampa de circulação vertical, garantindo acessibilidade, e uma treliça de ferro em forma de cobra grande, figura presente tanto nas encantarias amazônicas quanto na cultura africana. A cabeça da cobra abriga um mirante, com vista para a Baía do Guajará.

Outros elementos arquitetônicos reforçam a conexão entre tradição e modernidade, como o uso de madeira e beirais, típicos das construções amazônicas, que simbolizam resistência contra políticas históricas de repressão cultural. A área também terá um deck para rituais e oferendas realizados por comunidades de matriz africana, além de um espaço dedicado à gastronomia tradicional.

O Memorial leva o nome de Zélia Amador de Deus, professora emérita da Universidade Federal do Pará, atriz e militante do movimento negro. Outras áreas do espaço também homenageiam figuras icônicas da cultura negra, como Mestre Laurentino, Bruno de Menezes, Nilma Bentes, e as ialorixás Mãe Josina de Averekete e Mãe Raimundinha de Mina Nagô.

A Biblioteca Antirracista Bruno de Menezes, o anfiteatro Mestre Laurentino e o Espaço Circular Multiuso Nilma Bentes serão dedicados a atividades culturais, rodas de conversa e manifestações artísticas. A proa ancestral homenageia práticas religiosas e culturais tradicionais, promovendo sustentabilidade e respeito às comunidades locais.

Nilma Bentes, militante histórica do movimento negro, destaca o simbolismo da obra. 

“Este prédio foi pleiteado há décadas, juntamente com outras providências que nos façam avançar no caminho na busca de atingir a equidade racial neste chão. Este chão que, desde sua invasão há séculos tem sido marcado por opressões e iniquidades, que resultam nas abismais desigualdades sociais, foco do nosso lutar”, conclui.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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