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Cartilhas para empresas orientam sobre combate ao racismo e LGBTfobia no ambiente de trabalho

Grupo Reinserir de psicólogos produziu o material para o acolhimento de grupos minoritários no ambiente corporativo: “Não é trabalho das pessoas pretas ficarem ensinando aos brancos como se portar a respeito de questões raciais, é importante que as pessoas estudem os assuntos”, diz uma das idealizadoras

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/Dreamstime

30 de setembro de 2021

O Grupo Reinserir, clínica de psicologia em São Paulo voltada para atendimento humanizado e inclusivo de pessoas negras, periféricas e LGBTQIA+, elaborou uma série de cartilhas voltadas ao mundo corporativo. Com temáticas que abrangem desde o Setembro Amarelo, voltado à prevenção do suicídio, até um Manual de Diversidade e Inclusão para Organizações, o objetivo é tornar o ambiente de trabalho um local acolhedor às diferenças.

A iniciativa é inédita dentre as empresas ligadas à saúde mental e toda a arrecadação com as cartilhas é revertida no atendimento social que a clínica presta às pessoas que não tem condição de pagar pelo tradicional processo terapêutico. O material pode ser adquirido por meio das redes sociais do grupo.

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A psicóloga Natália Silva, fundadora do Reinserir, explica que a ideia de elaboração das cartilhas surgiu a partir das palestras que o grupo já desenvolve nas empresas. O tempo nessas rodas de conversa, segundo ela, é curto para que os assuntos possam ser abordados com profundidade

“Demandas de saúde mental são extremamente complexas. Em uma hora de encontro se torna apenas um assunto introdutório e, por isso, já usamos também as redes sociais do Reinserir como ferramenta de conhecimento complementar. Pensando nisso, e com tantas pautas voltadas às questões de gênero, sexualidade, raciais – como colorismo e afins -, imaginamos o quanto seria legal destrinchar essas temáticas”, explica a psicóloga.

As cartilhas também servem, segundo Natália, para consulta posterior dos colaboradores das empresas, a fim que não restem dúvidas sobre determinado assunto. Ela relembra que, em um bate papo com uma das lideranças corporativas, a gerente sugeriu que os funcionários consumissem o conteúdo das cartilhas com o pretexto de que eles não conseguiram absorver tudo que foi dito nas palestras. “Vocês lembram o que a Natália falou? Não? Então podem ir consultar as cartilhas”, recorda.

Acolhimento, estudo e respeito

“Não é trabalho das pessoas pretas ficarem ensinando aos brancos como se portar a respeito de questões raciais. É importante que as pessoas estudem os assuntos”, salienta a psicóloga.

As cartilhas elaboradas pelo Grupo Reinserir, de acordo com Natália Silva, servem principalmente para que as pessoas negras, LGBTQIA+ se sintam acolhidas e com suas questões respeitadas e compreendidas no ambiente de trabalho. Além disso, o intuito é também que os demais colaboradores se sintam provocados a mudar de comportamento.

Leia também: ‘Psicólogos atendem negros e LGBTs a preços populares e auxiliam na inserção ao mercado de trabalho’

“Se dentro de um vestiário, por exemplo, os homens se tratam como ‘viadinho’, ‘traveco’ e outros termos, como uma travesti vai se sentir confortável em um ambiente desses, ouvindo esse tipo de tratativa?”, questiona. “É possível substituir termos pejorativos e utilizar outras palavras com outras intenções para lidar com essas pessoas, de forma que a comunicação, como ensinado nas cartilhas, seja de acolhimento”, completa.

Prioridades e planos para o futuro

“A gente espera que as empresas possam se repensar, para se tornarem ambientes acolhedores e plurais. Queremos que eles entendam os tópicos mas, principalmente, que coloquem em prática essas cartilhas e se preocupem de fato com saúde mental”, reforça a psicóloga.

Natália explica que, por enquanto, os assuntos das cartilhas provêm das demandas que as empresas sugerem após as palestras realizadas. No entanto, ela diz que está nos planos do Grupo Reinserir abordar temáticas específicas, como foi com o material sobre o Setembro Amarelo.

“Em novembro, estamos pensando em elaborar um material específico utilizando a data da Consciência Negra para abordar os aspectos do racismo na saúde mental das pessoas negras. Demandas como depressão e ansiedade também estão recorrentes, portanto, materiais específicos sobre isso também vão surgir”, comenta.

No futuro, a psicóloga Natália afirma que o objetivo do Grupo Reinserir é estar dentro das empresas, para servir como facilitador em temas delicados e prestar manutenção à saúde mental das minorias.

“Tem sido muito difícil acessar esses espaços com uma proposta tão ampla quanto a das cartilhas, mas queremos também fortalecer a ideia de prestar consultoria, tendo psicólogos inseridos nas empresas, a fim de acolher essas demandas e atenuar sofrimentos possíveis de mudar”, finaliza.

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